segunda-feira, 14 de março de 2011

Caixa mágica musical.

Qual seria o mecanismo que aciona  nossas emoções ao disparar a caixa musical interna?
A minha única resposta é:
- Não sei, ainda não descobri.
Resposta simplória e desanimadora?  Pois é, mas infelizmente é só o que consigo responder por hora.
Tenho uma coleção de músicas que  faz chover a minha alma, sem ao menos saber o porquê.
Seriam as mensaagens que elas transmitem? Não necessáriamente. Muitas vezes bastam apenas melodias.
Quando criança, nos eventos culturais, os professores da escola de língua japonesa, me treinavam,  me enfeitavam, me vestiam com o kimono(traje típico japones) e  sobre o palco me empurravam em direção ao microfone. Ninguém me consultava se eu gostaria de cantar. Nem ao menos eu tinha o benefício de escolher a música. Para a minha tristeza, geralmente músicas sentimentais e tristes eram destinadas para que eu cantasse.
Do alto do palco, meu coração tremia, sentia no ar a expectativa do público, pares de olhos brilhantes à espera da canção que eu soltaria pela minha garganta.  E ela não vinha de imediato, quando aos trancos  minha garganta expelia um som, mais parecia uma melodia em som digital com interferência. O que vinha em abundância eram lágrimas que desciam sem parar pela minha bochecha abaixo.
E eu ficava com raiva, muita raiva de mim, o meu sentimento era de:
- Que raiva!, Mais uma vez, não consegui me segurar. Não consigo parar!
A reação da platéia se dividia entre risadas e olhares de piedade, decepção e desaprovação. Pareciam interpretar as minhas lágrimas como lágrimas de uma criança que chorava de timidez, seria apenas mais uma criança passando por uma cena de "mico" num evento escolar.
Me esforçava em não me concentrar no conteúdo da música, mas nada adiantava. Bastava iniciar o fundo musical. Era o suficiente para sangrar meu coração. Estava acionado o meu mecanismo das lágrimas que não estancaria tão facilmente. Nem sempre era o que a letra dizia que me emocionava, a melodia agitava meu coração. Passava a maior vergonha e ao deixar o palco sentia uma enorme frustração e me ressentia dos professores que me convenciam ou melhor, práticamente me obrigavam a cantar  incentivando e dizendo o quanto eu cantava bem e que por isso era meu dever representar a escola.
Muitos anos se passaram mas não criei nenhuma resistência quanto a este fato. Não é que eu não goste de cantar, pelo contrário, sinto muito prazer em cantar em casa, sózinha, diante de um aparelho de karaokê.
Porém ainda hoje,quando exercito a minha garganta, muitas músicas conseguem me derrubar. Pior ainda quando a letra da música retrata a mãe, por mais que eu tente não consigo chegar à metade dela sem chorar.Tudo continua o mesmo, amigos e parentes me elogiam e me fazem cantar. As pessoas acham engraçado esta minha falta de controle das emoções musicais e  me pressionam a cantar e o meu lado otimista aceita o desafio para conferir se já superei esta minha falta. Verifico constrangida que este interessante fenômeno que a música me proporciona continua bem presente dentro do meu coração.     
A minha caixa musical que guardo no meu coração é ainda a mesma desde a minha infância.

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