sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Medo

"Sempre tive medo, apenas nunca deixei de enfrentar".
Há muitos anos lí esta frase. Não me recordo com exatidão se foram estas as palavras, mas o conteúdo de uma resposta dada a uma repórter pela escritora Lya Luft  foi esta.
Admiro-a muito, pela sua forma de escrever, pelo seu talento de contemplar a vida e pela coragem de se mostrar, expondo o que se passa no seu âmago, através das palavras.
A frase me tocou bastante pois embora numa escala bem menor encontrei uma certa semelhança com o meu modo de viver.
Muitas vezes já ouvi os seguintes comentários:
- Nossa! Naomy, você está sendo corajosa!
ou
- Puxa! Você é muito forte!
Quando ouço isto acho interessante como conseguimos enganar tão bem o que na realidade somos por dentro.
A intensa fragilidade procuramos esconder através do enfrentamento.
Desde a minha infância sempre fui muito medrosa, daquelas que tem medo da própria sombra.
Medo do escuro, medo de sofrer, medo da dor, medo da perda, medo da ausência, medo de uma infinidade de coisas que a cada passo tenho tentado driblar. Não tenho medo de fantasmas, assombrações, tenho medo é da realidade que nos cerca, nos testa e não tem piedade.
Demorei muito a entender que o fato de ter medo não é uma prevenção nem nos torna imunes a sofrimentos e perdas e muito menos nos permite pular etapas.
Quando adolescente soube que eu deveria passar por uma pequena cirurgia. Embora uma microcirurgia, eu era uma mocinha que nunca havia passado por isto, fiquei com muito medo. Marquei para dois dias depois.
O médico admirado disse:
- Olha, não é tão frequente uma paciente que se mostra tão decidida e determinada. Você é muito corajosa!
Eu apenas sorri, mas ele estava totalmente equivocado. Eu estava com tanto medo, tanto medo que achei melhor passar por isto o mais depressa possível pois não iria agüentar ficar semanas pensando sobre a cirurgia. Se fosse possível faria naquele instante.
Houve uma época em que tive muito medo de perder a minha mãe. Quando criança pensava ser impossível sobreviver a uma vida sem a minha mãe. Mesmo já adulta, em muitas internações hospitalares pelo qual minha mãe passou nos ultimos anos de sua vida, meu coração ficava a ponto de explodir. O médico dela se preocupava comigo, me alertava sempre para me preparar, ser forte. Tentei me prevenir, exercitava a perda para tentar amenizar o sofrimento quando chegasse o momento. Nada disso funcionou, não me imunizou, tive que enfrentar passo a passo o ritual da perda com muito sofrimento, mas com os olhos bem abertos e com as pernas firmes sobre o chão.
Concluí que de nada adianta sofrer por antecedência, tentando se acostumar com a perda.
No momento exato a dor e o sofrimento é singular.
Para esta cena não há ensaios.
O medo é um fatasma que nos castiga antecipadamente sobre uma realidade que está por vir que ainda não chegou, que pode ser feia ou não tão feia ou nada feia.
Toda essa vivência tem servido para me ensinar que embora não seja fácil deixar de sentir medo, não vale a pena sofrer por antecipação, criar fantasmas imaginando o tamanho e a feiúra do "Lobo Mau" que virá nos assustar.
Afinal, o Lobo pode não ser tão mau assim e nós também poderemos não ser tão ingênuas quanto a "Chapéuzinho Vermelho".
Poderemos mudar o rumo da história, pintarmos a Chapéuzinho de outra cor e criarmos uma outra história para nossas vidas!

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