quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Copa do Mundo e o Amor.

- Tia, qual é o time de futebol que você torce?
 Durante o jantar, o sobrinho do meu marido me perguntou.
Respondí:
- Ué, o mesmo time que seu tio torce. Gosto de ver meu marido feliz!
Gosto de futebol, assisto os jogos, mas sou uma grande torcedora quando o Brasil está em jogo.
Quando vivemos a Copa do Mundo fico ansiosa, meu coração palpita, sofre, vibra e se alegra. Quando o Brasil vence um jogo fico feliz e realizada. Sou descendente de japoneses, tenho características físicas orientais, então frequentemente me colocam na berlinda e perguntam se realmente torço pelo Brasil quando joga Brasil X Japão.
Não posso dizer que me sinto confortável quando estes dois países estão em jogo, não gosto de ver os dois países se confrontarem. Meu pai e minha mãe são japoneses, tive um aprendizado muito grande da cultura japonesa, tenho dentro de mim muita influência da tradição japonesa. Mas antes de tudo isso nascí em terras brasileiras, em São Paulo, que verdadeiramente amo, no bairro da Praça da Árvore, aquí é a minha Pátria. É onde nascí, vivo e morrerei. Sinto os meus dois pés totalmente enraizados neste país que me recebeu ao primeiro choro, que me cercou de pessoas amigas,  me deu instrução gratuita do ensino primário até a conclusão da Faculdade, me deu trabalho, oportunidades, tenho muita gratidão e amor por este país.
Recentemente, andando pelas ruas comerciais observei que já se encontram disponíveis muitos objetos para utilizarmos quando começar a Copa. Reparei numa camiseta amarela de frisos verdes bordadas com lantejoulas " Eu amo Brasil". Apesar de chamativa era bonita.
Atrás de mim percebí um casal olhando para a mesma camiseta.
A esposa falou em tom de desabafo:
- Eu não amo o Brasil, não!
O seu marido ao ouvir isto, ficou muito indignado e com os olhos arregalados respondeu:
-O que você falou?! Não acredito no que ouví, você está falando sério? A Copa já está começando e você falando uma coisa dessas! Que absurdo! Não, eu não quero ouvir isso!
Ainda ela insistiu:
-Eu não amo mesmo!
E os dois foram andando pela rua brigando e gesticulando.
Pensativa peguei o meu rumo, de um lado achei bonito a indignação do marido pela confissão da mulher, mas fiquei tentando entender o lado dela. Ela não gosta do país onde nasceu e mora, isto deve ser muito frustrante. É como não amar a sua própria família, sua casa, seu lar. É triste, muito triste, pensei.
Qual seria o país que ela gostaria de ter nascido? Deve existir um país que ela idealizou, que acredita ser melhor, será que tem a ver com riqueza? Com política? Para amarmos alguém precisamos conviver, cultivar, regar, estar com o coração aberto. Acredito que para amarmos um país também precisamos das mesmas coisas, um país não é só riqueza ou beleza. Já viví muitos anos neste país, (não vou dizer quanto... ) e amo este país principalmente pelas pessoas que aquí vivem, um país que está sempre de braços bem abertos para o novo, para te receber, para colocar mais água no feijão, para te beijar, te abraçar, para conversar em filas ou no ônibus, para pular dentro de águas imundas numa inundação, para socorrer o próximo. E a lista continua...
É um país sem problemas?
Evidentemente que não, temos outra lista para eles, mas o "Passárgada" existe? Só gostamos de pessoas perfeitas sem nenhum problema ou defeito?  Ou ainda, amamos apenas por serem bonitos, perfeitos e não nos causarem problemas?
No amor verdadeiro e incondicional nada disso é levado em conta.
Alguns dirão:
- Ah, a Copa do Mundo fabrica  "patriotismo temporário"!
É uma possibilidade, mas eu penso que pode ser o grande gancho para alguém que ainda não havia se decidido ou nem havia reparado nesta palavra a aprender e ter a oportunidade de vivenciar o exato momento em que milhões e milhões de corações irão bater por um único objetivo e perceber que isso também é amar o nosso país!

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