Sentada confortávelmente na quinta fileira do auditório do Centro Cultural FIESP/SESI - Ruth Cardoso, Av. Paulista - SP, numa quarta feira, ao meio dia, sentia uma certa culpa. O fato de estar alí, num dia de semana enquanto, lá fora, milhares de pessoas trabalhavam me incomodava, mas isso desapareceu rápidamente ao me ver cercada por centenas de pessoas felizes. Todos demonstravam um misto de euforia e contentamento pelo prazer que teriam dentro de alguns instantes. A certeza da felicidade garantida da próxima hora deixava-nos sorridentes. Aguardávamos o início de um concerto da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, dentro do programa "Música em Cena". As poltronas laterais do auditório estavam preenchidas por crianças com fisionomias indígenas monitoradas por alguns adultos que imaginei serem professores. Os monitores pareciam muito felizes em poder proporcionar estes ricos momentos a estas crianças e não paravam de olhar para eles. Estamos no mês de férias escolares talvez isso explique a grande quantidade de crianças presentes na platéia. Embora comportados e educados demonstravam ansiedade em seus olhares. Quem sabe futuros e grandes músicos estariam sendo germinados naquele momento.
Para mim, imaginar todas estas coisas e degustar o prazer de contemplar a manifestação do público presente também faz parte da grande atração ao frequentar concertos e teatros. A Banda com a regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa e com a interessantíssima e magnífica participação de Albert Khattar que nos contemplou com o som alegre e divertido de uma Tuba. O concerto faz parte da série "Pra Ver a Banda Tocar" e o maestro bastante comunicativo nos fez observar a relação som e sentimento, sons representando momentos da vida como a infância divertida, vida adulta mais agitada e o som contemplativo da terceira idade, culminando com o ápice da "Vida".
Teve também "uma canja" que permite ao público estudante de música e instrumento, subir ao palco e ter a experiência de tocar como integrante de uma banda.
Nada pesquisei ainda a respeito da relação emoção versus música que tenho dentro de mim. Porém, todas as vezes que se inicia um concerto sinto todas as minhas veias se agitarem, meu coração se acelera, aperta meu peito e não consigo impedir os meus olhos de se inundarem. Hoje, durante o concerto, refleti sobre a minha sensibilidade quanto ao som de uma música, principalmente quando se trata de uma obra fruto de um conjunto de dedicação humana, a união que resulta numa arte maravilhosa!
Desde a minha infância e até hoje, existem algumas músicas que não consigo ouví-las sem chorar. Uma música em especial que gosto de cantar em Vídeokê, que narra a vida de uma mãe, me impede de cantar sem desafiná-la, pois começo a soluçar e lágrimas viram cataratas. Mesmo me esforçando ao máximo para não acontecer, acabo chorando. As pessoas que me vêem assim acham muita graça pois não conseguem entender como consigo ter este comportamento mesmo cantando tal canção pela enésima vez.
Quando eu tinha os meus sete anos de idade subi ao palco para interpretar uma música japonesa vestida de kimono e tudo e me concentrando na letra, meus lábios começaram a tremer e desandei a chorar.
Ninguém entendeu nada. Foi um "mico"!
Música tem esta força, a "Arte" tem este poder de sensibilizar, de atingir a profundeza da nossa alma,
agitá-la, trazendo ao nosso coração todas as recordações belas, alegres ou tristes que temos guardadas dentro de nós. Lembranças que trazemos conosco desde o príncípio da nossa existência, intra uterina ou quem sabe até de outras vidas.
A apresentação da Sinfônica foi uma hora e meia de absoluto envolvimento e prazer. Sentí muita gratidão a estes músicos maravilhosos que têm a capacidade, fruto de uma enorme dedicação, de nos presentear com a plenitude do amor à Arte.
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