domingo, 1 de agosto de 2010

Minha plantação.

Já falei anteriormente sobre o complexo que sinto da minha ignorância botânica (postagem do dia 12/05/10)e também da minha tentativa de aprendizagem. Tenho um imenso prazer em contar que tenho evoluido, embora a passos de tartaruga. No prédio onde resido, reparei que um morador do térreo plantara cebolinhas num vaso e de tão lindas me causavam  muita inveja(boa, como muitos dizem, se é que isto existe). Eram vistosas, sadias e  chamavam muita atenção. Um certo dia ao encontrar com o moço, dono das cebolinhas, elogiei sua plantação e ele muito satisfeito, gentilmente, me respondeu:
- Quando você quiser esteja à vontade para colhê-las!
Agradeci, mas não teria cabimento deixar a plantação do moço  à mingua. Resolvi imitá-lo.
Comprei um montão de maços de cebolinha e à medida que ia consumindo, plantava a raiz num vaso, na minha varanda. Rápidamente ela se desenvolveu e o meu vaso também se encheu de cebolinhas vistosas e apetitosas. Cada prato que preparo, lá vou eu eufórica para a minha varanda buscar as cebolinhas com carinho e respeito.  E eles dão o toque final delicioso aos meus quitutes. A raíz da cebolinha permanece no vaso, então novamente ela se desenvolve e assim nunca mais faltaram cebolinhas na minha cozinha. Com o sucesso, a minha gula pensou mais longe e resolvi que precisava de salsinhas também. Salsinhas não se vendem com as raízes, portanto fui à procura de sementes de salsinhas, porém encontrei apenas de coentros.
Coentro era uma erva que eu não possuía intimidade. Lembrei que a minha aluna Darcy, uma senhora de 76 anos muito bem vividos, (também já postei a respeito dela no dia 17/04/10) havia comentado que a erva que melhor harmonizava com o feijão era o coentro. Até então, todas as vezes que ia ao supermercado à procura de salsinha e encontrava apenas maços de coentro, olhava  torto para eles, arrancava uma folhinha, cheirava e em pensamento  murmurava:
-Só tem você, hoje! Que bela droga, embora tenha um design das folhas semelhante à salsinha, você não me apetece. De que me serve você com este seu aroma estranho?
Porém, após ouvir o comentário da minha aluna resolvi dar uma chance ao coentro. Iria criar coentros meus para provar com o feijão. Todos os dias eu ia lá no vaso e tinha o prazer de acompanhar cada vez que as mudinhas venciam a terra e achavam o caminho da luz. Demoraram um mês ou mais para atingirem o seu ponto ideal para serem colhidos. Ficaram bonitos e saudáveis. Preparei o meu feijão preto, colhi orgulhosa os ramos do coentro e ao lavá-los o aroma que um dia achara estranho senti-o delicioso. Ao picá-lo me envolveu com um aroma de fundo refrescante semelhante ao de uma laranja. Acrescentei também as folhas de louro e o meu feijão ficou supimpa!
Pensei com os meus botões:
- Porque não pensara antes em ter uma plantação de ervas?
Cheguei à conclusão que houvera tempos em que eu não possuía tranquilidade suficiente para apreciar uma planta, muito menos regá-las, apenas corria contra o tempo fazendo não sei o quê.
Achei muito divertido e me senti muito feliz ao apreciar um tempero cultivado numa varanda, pelas minhas próprias mãos.
Mesmo sendo uma pessoa ansiosa, aprendi a aguardar e respeitar o tempo necessário da natureza. Experimentei o prazer de consumir alimentos que dediquei tempo e amor para cultivá-los e o melhor, ter a certeza da ausência de agrotóxicos.
Observei que talvez eu tenha conseguido alcançar uma modesta calmaria onde consigo dar valor a estas pequenas felicidades, tão simplórias mas tão verdadeiras e prazerosas.

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