quarta-feira, 21 de julho de 2010

Banda Sinfônica do Estado de São Paulo

Sentada confortávelmente na quinta fileira do auditório do Centro Cultural FIESP/SESI - Ruth Cardoso, Av. Paulista - SP, numa quarta feira, ao meio dia, sentia uma certa culpa. O fato de estar alí, num dia de semana enquanto, lá fora, milhares de pessoas trabalhavam me incomodava, mas isso desapareceu rápidamente ao me ver cercada por centenas de pessoas felizes. Todos demonstravam um misto de euforia e contentamento pelo prazer que teriam dentro de alguns instantes. A certeza da felicidade garantida da próxima hora deixava-nos sorridentes. Aguardávamos o início de um concerto da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, dentro do programa "Música em Cena".  As poltronas laterais do auditório estavam preenchidas por crianças com fisionomias indígenas monitoradas por alguns adultos que imaginei serem professores. Os monitores pareciam muito felizes em poder proporcionar estes ricos momentos a estas crianças e não paravam de olhar para eles. Estamos no mês de férias escolares talvez isso explique a grande quantidade de crianças presentes na platéia. Embora comportados e educados demonstravam ansiedade em seus olhares. Quem sabe futuros e grandes músicos estariam sendo germinados naquele momento.
Para mim, imaginar todas estas coisas e degustar o prazer de contemplar a manifestação do público presente também faz parte da grande atração ao frequentar concertos e teatros. A Banda com a regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa  e com a interessantíssima e magnífica participação de Albert Khattar que nos contemplou com o som alegre e divertido de uma Tuba. O concerto faz parte da série "Pra Ver a Banda Tocar" e o maestro bastante comunicativo nos fez observar a relação som e sentimento, sons representando momentos da vida como a infância divertida, vida adulta mais agitada e o som contemplativo da terceira idade, culminando com o ápice da "Vida".
Teve também "uma canja" que permite ao público estudante de música e instrumento, subir ao palco e ter a experiência de tocar como integrante de uma banda.
Nada pesquisei ainda a respeito da relação emoção versus música que tenho dentro de mim. Porém, todas as vezes que se inicia um concerto sinto todas as minhas veias se agitarem, meu coração se acelera, aperta meu peito e não consigo impedir os meus olhos de se inundarem. Hoje, durante o concerto, refleti sobre a minha sensibilidade quanto ao som de uma música, principalmente quando se trata de uma obra fruto de um conjunto de dedicação humana, a união que resulta numa arte maravilhosa!
Desde a minha infância e até hoje, existem algumas músicas que não consigo ouví-las sem chorar. Uma música em especial que gosto de cantar em Vídeokê, que narra a vida de uma mãe, me impede de cantar sem desafiná-la, pois começo a soluçar e lágrimas viram cataratas. Mesmo me esforçando ao máximo para não acontecer, acabo chorando. As pessoas que me vêem assim acham muita graça pois não conseguem entender como consigo ter este comportamento mesmo cantando tal canção pela enésima vez.
Quando eu tinha os meus sete anos de idade subi ao palco para interpretar uma música japonesa vestida de kimono e tudo e me concentrando na letra, meus lábios começaram a tremer e desandei a chorar.
Ninguém entendeu nada. Foi um "mico"!
Música tem esta força, a "Arte" tem este poder de sensibilizar, de atingir a profundeza da nossa alma,
agitá-la, trazendo ao nosso coração todas as recordações belas, alegres ou tristes que temos guardadas dentro de nós. Lembranças que trazemos conosco desde o príncípio da nossa existência, intra uterina ou quem sabe até de outras vidas.
A apresentação da Sinfônica foi uma hora e meia de absoluto envolvimento e prazer.  Sentí muita gratidão a estes músicos maravilhosos que têm a capacidade, fruto de uma enorme dedicação, de nos presentear com a plenitude do amor à Arte.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Vida Sem Roteiro


Vida sem roteiro!
Estampada na tela do televisor, esta frase chamou minha atenção, na manhã de hoje.
Vida livre, sem planejamentos, cálculos, preocupações e medos. Uma vida trilhada sem lenço nem documento. Quase um hippie!
Ah! E por que não? Hoje com uma certa maturidade alcançada me sinto atraída por esta idéia, entretanto na idade estudantil pensava muito diferente. Decidi tomar um caminho que não me proporcionasse surpresas nem sustos, uma estrada iluminada sem grandes curvas nem labirintos. Sinto que, na realidade, quando jovens, não pensamos tão profundamente nas nossas escolhas. Muitas vezes apenas seguimos caminhos traçados influenciados pelas opiniões alheias. Admiro profundamente adolescentes que desde cedo conseguem visualizar e ter a certeza sobre  "o que querem ser na vida". Ou ainda, jovens que nascem em famílias de médicos, advogados que já têm seus destinos desenhados. Seguir a tradição familiar conscientemente, por opção própria, por convicção. Lembro-me que na Faculdade até sentia uma leve inveja de colegas que lá estudavam com a carreira garantida no seio de um negócio familiar. Mesmo assim não segui a profissão do meu pai. Meu pai, fotógrafo profissional, com o seu estúdio montado e clientela garantida, fazia com que  muitas pessoas imaginassem que algum dos seus filhos seguiria sua profissão, porém ele nunca nos direcionou a isto. Deixou-nos livres para a escolha de uma profissão. Após concluir a faculdade segui trabalhando no meu emprego com o teto seguro, fazendo da minha paixão pelo desenho apenas um hobby. Porém a sábia e generosa  "Vida" comandada pelo "Supremo" resolveu dar-me uma oportunidade de tornar a minha vida mais prazerosa embora sem garantias. A decisão não foi rápida nem fácil. Viver do desenho... Uma opção que muitos olham com interrogações, curiosidades, até com um certo interesse, contudo com desconfiança de que isso realmente possa ser uma profissão séria. Muitas vezes quando falto a algum evento familiar e posteriormente me desculpo explicando que não pude comparecer pois tive que trabalhar, passar o final de semana desenhando, vejo um:
- Ai, que desculpa!
estampado no rosto das pessoas.
Recentemente não pude deixar de ouvir um comentário, embora tenha sido feito à boca pequena:
-E desde quando desenhar é trabalhar?
Um aluno, já experiente no desenho, me contou inconformadíssimo:
- Naomy, você acredita que me ofereceram cinco reais para desenhar dois retratos como se estivesse pagando uma fortuna!?
Encontramos e vivenciamos muitas coisas pelo caminho mas a grande maioria das pessoas que conhecemos através do desenho são pessoas especiais, que temos a oportunidade de admirar, aprendermos muito e principalmente acumulamos amizades que amamos colecionar.  Alunos que mandam notícias, alunos que me escrevem de países longínquos, saudosos, com palavras de carinho me comovendo e me enchendo de saudade. Editores generosos e amigos que sempre nos ensinam, nos orientam, nos incentivam e que me aquece o coração todas as vezes que trabalhamos juntos. E nestas horas sinto uma imensa gratidão por compartilhar a arte com pessoas tão especiais e iluminadas.
Tudo isso faz a vida valer muito a pena!

sábado, 3 de julho de 2010

Olhos que falam e não negam.

O ser humano pode ser tão maravilhosamente instigante. Ele pensa. E como pensa, mas tem a grande capacidade de se fechar, de ser uma caixinha trancada a milhões de chaves. Sentir uma emoção e representar um sentimento totalmente divergente! O ser humano tem a capacidade de mentir, de ocultar, de se utilizar da hipocrisia, jurar em falso. Nossa! Como estou amarga, revoltada e pessimista? Não, nada disso, pois eu acredito que podem mentir, falsear, ser hipócrita mas existe uma janela no ser humano que trai todos este truques e artimanhas.
Os olhos, a janela da alma!  Olhos que falam e não negam. Lágrimas, sentimentos em forma de águas cristalinas. Quem pode suspender lágrimas que escorrem, cuja fonte se esconde atrás do morro de sentimentos? Sentimentos teriam peso ou medida? Alguns valem mais e outros menos?
Perdemos para Holanda num jogo de futebol, numa Copa do Mundo! Não chegamos à Semi-finais.
Muitos dirão:
- Qual é? Que bobagem se lamentar por isso! Num país de inundações, crimes e hospitais públicos deficitários!
Lí comentários na internet:
- Pra que chorar? Que ridículo as falsas lágrimas de duas dezenas de jogadores milionários?
Com certeza cada um tem as suas razões para tecer estes comentários, mas seria justo?
Após o jogo fui acompanhar meu pai que veio assistir o jogo comigo e ao entrar no elevador encontrei algumas pessoas sedentas a externar suas revoltas.
- Brasil mereceu isso! Bem feito! Não sabe o que é lutar até o fim! Lágrimas de jogadores! Ah! Faça me o favor!
Fiquei quieta, eu estava muito triste, ouvir estas palavras de brasileiros me deixou mais agredida ainda.
Meu pai também nada falou. Ficamos olhando para o chão. Não adiantaria falar nada para um grupo revoltado de pessoas querendo extravasar. Me poupei.
Por que agredir o Brasil? O Brasil estava lá representado por duas dezenas de jogadores que lutaram, se machucaram, erraram, mas lutaram dignamente e eu acredito que não fizeram isto pelos salários milionários. Naquele instante que se desesperaram para tentar recuperar um placar favorável estariam pensando no passe que iria se desvalorizar?
Lágrimas e até a dificuldade de respirar e falar do goleiro ao ser entrevistado, logo após a derrota, a dor que sentia por decepcionar  milhões de brasileiros eram falsas?  Lágrimas e a tristeza de pessoas que ganham salários milionários teriam menos valor?
Não, eu não posso acreditar nisso. Dirão que sou burra e ingênua? Tudo bem. Não mudarei mais nesta altura da vida. Eu não conseguirei deixar de me emocionar e me sentir consternada diante das lágrimas de um ser humano, independentemente se ricos ou pobres.
Se vencessemos a Copa do Mundo, apenas e tão somente se tornassemos hexacampeões, só assim os jogadores seriam heróis e todos se esqueceriam que eles são milionários e seriamos todos brasileiros irmãos?
Serão dignos de amor, respeito e idolatria apenas os vencedores? Pedras para os derrotados?
No decorrer da nossa vida muitas vezes tropeçamos, caimos e quando estamos no chão, machucados, 
podemos contemplar uma variedade de olhares, de desprezo, preconceito, sadismo, temor, mas no meio deles encontramos sempre olhares de compaixão, amizade, compreensão e amor. Nestas circunstâncias tudo que não precisamos são de xingamentos, censuras, repúdios e julgamentos, mas de compreensão, companheirismo, aceitação e amizade.
É neles que nos agarramos para continuarmos acreditando, caminhando e não desistirmos nunca! Nestes momentos então é que somos contemplados com um sopro de esperança e compreendemos o verdadeiro significado e a beleza da vida!