Cansamos?
Nem tanto, era até divertido responder a estas perguntas.
Sabíamos o que significava crescer? Hummm... Acho que não.
Crescer, para mim, era apenas crescer de tamanho e ficar com o rosto de adulto.
Me tornar uma pessoa alta, adulta, bonita e maquiada, poder calçar sapatos de salto alto, carregar uma bolsa cheia de coisas de moça, batom, pó de arroz, espelho, pente, documentos e principalmente talão de cheque com caneta bem chique! Não que eu tivesse consciência da necessidade material e do poder financeiro, apenas achava muito elegante preencher um cheque, destacá-lo do talão e entregar a alguém.
Isso era tudo que eu tinha conhecimento sobre crescer. Afinal não se conta detalhadamente a uma criança que quando crescer será necessário adquirir responsabilidade, criar discernimento para entender o que é ser politicamente correto e incorreto, saber tomar decisões, ter maturidade para custear sua própria independência financeira e ainda uma infinidade de coisas que são necessárias para vencer cada etapa da vida e então chegarmos a ser uma pessoa dita "crescida".
Na minha imaginação infantil, milagrosamente ou através de uma varinha mágica, quando crescesse
e tornasse adulto, estaria naturalmente empregada num bom emprego. Como aquela instituição bancária que ficava perto da minha casa. Sentada na praça, passava minhas tardes contemplando as moças que lá trabalhavam e no horário de almoço descansavam na praça. Admirava aquelas moças vestidas com saias justas, camisas alvas, colar no pescoço, sapatos de salto alto e bico fino, cabelos bem penteados, maquiadas com muito lápis e rímel nos olhos e bocas bem marcadas com batons vermelhos. Nem sequer imaginava como era o trabalho delas, sabia apenas que quando eu ia ao banco com meu pai, elas recebiam dinheiro e carimbavam muitos papéis. Parecia ser muito divertido passar o dia carimbando papéis!
E então eu decidia que quando crescesse seria uma bancária!
Na escola, admirava minha professora, tão cheirosa, tão elegante, tão bem vestida, inteligente e tão amorosa! Eu adorava a Dona Nazareth, minha professora!
Então eu decidia que quando eu crescesse seria professora!
Quando ia nas consultas médicas, ficava encantada com as médicas vestidas com o avental branco e reluzente, estetoscópio pendurado no pescoço, assim como adorava as enfermeiras tão boazinhas que me enchiam de carinho. E então eu ficava dividida entre ser médica ou enfermeira.
Apenas não me lembro de um dia ter repondido a alguém que quando crescesse seria desenhista. Mesmo sendo criança, talvez eu tivesse a sensação de que trabalho não era diversão e desenho para mim era o prazer máximo!
Naquela época, apenas após terminadas as obrigações podíamos nos entregar ao prazer de desenhar e assim, desenhar ficou sendo para mim aquele momento que merecemos usufruir após concluir tarefas obrigatórias como estudar, fazer as lições de casa e ajudar nos trabalhos domésticos.
Ao som de uma linda música e me entregando nesta ilustração, minha cabeça se divertia recordando estas
coisas da infância. Pois bem, estou aqui, crescida, adulta e continuo desenhando e pintando-o com lápis de cor, exatamente como fazia quando criança. Não uso saias justas, nem sapatos de saltos muito altos,
me maquio apenas com moderação, mas o melhor de tudo é que ainda desenho todos os dias, tal qual quando criança!
E se por acaso alguém me perguntar o que eu ainda gostaria de ser, eu tenho a resposta na ponta da língua.
Eu gostaria de ser violinista e fazer parte de uma orquestra!
Ah! E se esse alguém for o mago da lâmpada e me conceder a possibilidade de fazer mais pedidos, gostaria de ser também bem bonita, magra e de cabelos esvoaçantes exatamente como a moça da minha ilustração.
Não custa nada sonhar!