sexta-feira, 27 de maio de 2011

O espelho de todos nós.

Tenho sorte de ter um amigo que além de ser um dentista muito eficiente é também espirituoso.
Cada vez que sento naquela poltrona que mais parece uma cadeira de tortura, ele tenta me relaxar contando piadas.
Na sua maioria, piadas de salão, nada muito proibido para menores.
A ultima que ouvi, além de dar muita risada fez-me também pensativa.
Favorecendo a classe, a piada era sobre uma senhora que foi pega de surpresa por uma dor de dente alucinante!
Necessitava urgentemente de um dentista. Uma mulher que embora tivesse se formado em Odontologia não exercia a profissão. Caminhando desesperada pela rua à procura de um dentista, deparou-se com uma placa sobre a porta de vidro.
Enfim havia encontrado um dentista! Observou surpresa que era o nome do seu colega de faculdade.
-  O Adauto! Que boa coincidência!
Alegrou-se.
Subiu a escada ansiosa por dois motivos, a possibilidade de rever o seu colega de faculdade e  ter encontrado um salvador. Alguém que a libertaria desta dor dilacerante que sentia no seu canino.
Ao ser conduzida para o consultório constatou decepcionada, que não era nem de longe, quem havia pensado.
- Que pena... não é ele...
Pensou.
Adauto era um homem bonito, elegante, o colega mais charmoso da turma e também o mais disputado pelas universitárias.
Este que sorria diante dela com as pálpebras enrugadas,
óculos de aros grossos sobre a ponta do nariz e a barriga proeminente, não era ele.
O doutor que a convidava a sentar era um velhinho de peles maltratadas que em nada lembrava o seu colega. Quase totalmente calvo, conservava cuidadosamente alguns fios que restara sobre a cabeça. Não, definitivamente, este não era o Adauto.
No intervalo dos procedimentos a mulher que estava intrigada com a coincidência resolveu puxar o assunto.
- O doutor tem exatamente o mesmo nome de uma pessoa que conheci na faculdade de Odontologia...
- Ah, é?
Responde interessado.
- É... Por acaso, o senhor teria estudado na Universidade de São Paulo, turma de 1977?
O doutor balança a cabeça afirmativamente e responde:
- Sim, sim, justamente! Olha só! Mas... A| senhora... Dava aula de qual disciplina?

Mesmo com a boca cheia de algodão dei muita risada e o meu dentista bem humorado mais ainda do que eu.
Eu logo brinquei com ele.
- Olha, não é nenhuma indireta para mim. É?
Ele ficou assustado e disse:
- Não, Naomy! Que isso!
Dei risada para libertá-lo do sufoco. Contei a ele que recentemente quando revejo os amigos da faculdade passei a me sentir apreensiva.  Quando se trata de uma amiga de infância então, é de dar um frio na barriga! Quando me reconhecem fico feliz e mais tranquila! Quando me reconhecem de imediato, ganho o dia! Sinto-me nas nuvens!
Ele deu muita risada. Meu amigo dentista tem coragem de contar piadas assim pois está isento destas preocupações. Há muitos anos que o conheço e ele não mudou quase nada na sua aparência..
Sabe aproveitar a vida! Sorte dele!
Muitas vezes, quando passamos distraídas diante de vitrines espelhadas nos encontramos com a nossa face que não estamos acostumadas e nos assustamos.
Em casa quando pegamos o espelho para nos analisarmos intencionalmente, fazemos pose, sorrimos, esticamos o queixo para disfarçar o queixo duplo, escurecemos um pouco o ambiente, tentamos focalizar apenas o melhor lado do nosso rosto.
Quando se trata de terceiros conseguimos encarar todos os "pés de galinha", "bigode chinês", "código de barra", enfim, rugas e marcas de expressão que a vida deixa registrado como uma recordação, no rosto das pessoas. Estando diante do outro enxergamos defeitos alheios, mas nesse momento não temos um espelho diante de nós que reflita também os nossos.
Não acreditamos e damos risada ao ouvir alguém dizer que a beleza física não importa, o que conta é a beleza interior ou ainda, que assim como o vinho, quanto mais os anos passam ficamos melhor.
Não existem receitas concretas que nos ensinem a nos mantermos bem ao longo da vida. Se existisse, com certeza, seriam vendidas a preços exorbitantes! Como eu não tenho a receita e muito menos, dinheiro para comprá-las quando houver, eu me arriscaria a crer que se formos capazes de manter a pureza da alma que recebemos ao nascer, conservar a euforia que sentimos diante das belas coisas da vida, do amor
e principalmente, se soubermos amar a nós mesmos, tudo isto refletirá positivamente na nossa face.
Afinal, não dizem que o rosto é o espelho da nossa alma? Assim, penso que não haverá marcas registradas em nosso físico que seja suficiente para abafar a nossa beleza!
E beleza, com certeza, todos temos dentro de nós!

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