Todos os dias tudo caminha normal.
Graças a Deus!
Normal é bom sinal.
Normal significa que tudo está onde deveria estar.
Isso é bom. Somos gratos por isso.
Existiria algo melhor ainda do que o normal?
Quando encontramos alguém, após um longo periodo distante, a primeira pergunta é:
- Oi! Há quanto tempo! Tudo bem?
Respondemos automaticamente, sem muito pensar.
- Oi! É mesmo, quanto tempo, heim! Tudo bem, tudo normal.
E você?
Não ficamos ocupando o tempo alheio contando sobre a panela que ganhamos no bingo, a boa nota que o filho tirou na prova de Química, do quanto estamos contentes com novos amigos que ganhamos através do blog, das contas que deixamos de pagar, remédios que passamos a tomar diáriamente, joanete que passou a nos incomodar, das cirurgias que tivemos que fazer...
Uma vez, ouvi de um aluno, um simples comentário, mas muito sensato e inteligente.
- Já foi a época em que eu pensava que contar a alguém que este mês não consegui pagar a conta de luz, resolveria o meu problema.
Realmente, o que adiantaria contar a alguém o quão endividado estamos? E quem gostaria de ouvir sobre dívidas se não somos e nunca seremos os únicos a passarmos por apertos financeiros?
Sempre fui muito eufórica(exagerada para os críticos) com todos os sentimentos e acontecimentos que me assolam, independentemente de serem acontecimentos positivos ou negativos. Quando algo acontece de bom, fico muito, muito contente ou como gosto de escrever: "muuuuuuuuuuuuuuito contente". Muitas vezes a minha pobreza de vocabulário me faz parecer que não consigo demonstrar minha euforia do tamanho que deve ser. Quando estou feliz fico sorridente, meu peito parece explodir, tenho vontade de contar a todos, gosto de demonstrar para quem quer que seja o quanto estou contente! Do contrário também acontece o mesmo, quando algo me perturba ou me entristece e me preocupa, não consigo dormir direito, vira uma tragédia grega, mesmo não sendo comigo.
"Olha, não te contei pois sabia que você já ia ficar super envolvida."
Esta é uma frase que ouço com uma preocupante frequência.
Também já ouvi:
"Eu me garanto, sou calma e discreta como um peixinho no aquário. Sou uma concha fechada, assim não entra areia. Já, você..."
Também costumo ouvir da pessoa que realmente se preocupa comigo:
"Você se expõe demais, assim você se torna vulnerável."
Após tantos conselhos fui me adequando, ou pelo menos tentando. Afinal, estou aqui na terra há um bom tempo como aprendiz. Porém, confesso que não é uma coisa muito elementar de se aprender. Muitas vezes ainda tenho aquele velho ímpeto de euforia e de tragédia grega também. Segundo as pessoas próximas, a minha euforia, pode ser observado até pelo meu tom de voz, meus olhos arregalados e pelo rubor das minhas bochechas.
"Olha, o homem que caminha lá no outro extremo da praça, não precisa ouvir o que você está falando."
Este tipo de comentário já se tornou comum. Realmente é de se preocupar...
Vejo que não estou sendo adequada, lembro de todos os conselhos, das indiretas e diretas, fico murcha, reduzo meu botão de volume, desarmo o meu barraco e amuada, fico no meu devido lugar. Mas ainda assim, tenho uma vontade louca de, por exemplo, agora, tenho uma irresistível vontade de polemizar e escrever:
"Tom normal é pouco! Quando estou feliz, quero contar para o caixa do banco, atendente do supermercado, contar para todas as minhas amigas, a família inteira e também quando estou triste ou preocupada quero contar para todo mundo, quero poder chorar, quero conselho e opinião "do mundo"! Eu sou assim! "
Eu sei, eu sei, isto não é normal, é inadequado.
Por favor, deletem as frases entre aspas acima.
Estou aprendendo, estou me esforçando para ser mais contida. Mais "adequada", "apropriada".
Mais elegante?
Agora quando me perguntam:
-Oi, tudo bem?
Com um sorriso sereno respondo:
-Tudo bem, tudo normal.
Quem pergunta e quem responde têm a consciência de que estamos perguntando e respondendo uma a outra apenas sobre acontecimentos muito graves, mas muito graves mesmo. E se estamos uma diante da outra, inteiras, sobre as próprias pernas é sinal de que estamos vivas e isso significa que está tudo bem, tudo normal.
Normal parece pouco?
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