segunda-feira, 2 de maio de 2011

Meu violão.

Tenho um violão que me acompanha pela vida desde os meus seis anos de idade.
Não que eu não tenha tentado, mas nunca consegui fazer dele um ativo instrumento musical. Ele sempre foi e provavelmente sempre será apenas o meu guardião de lembranças. Sinto muito por ele, pois certamente ele foi confeccionado para brilhar, para nos embalar com lindas melodias.
Seu destino foi alterado quando minha mãe adquiriu-o numa linda loja de instrumentos musicais.
Resignado e calado ele me segue por todas as mudanças e em todas as fases da minha vida.
No meu entender, ele aceitou com fidelidade o seu papel que lhe foi destinado pela minha mãe.
Ser meu amigo e companheiro.
Num dia qualquer, aos seis anos de idade, fui dormir e na manhã seguinte acordei paralítica das duas pernas. Minha mãe não conseguia acreditar, pensara que eu estaria brincando.
Simplesmente não me mantinha em pé. Ela tentava me colocar de pé e eu desmoronava como uma boneca de pano. Começou-se então a peregrinação aos consultórios médicos e meus pais receberam os mais variados diagnósticos sem nada resolver. O desespero tomou conta deles. Até uma curandeira foi chamada. Uma senhora oriental, idosa de cabelos compridos e brancos adentrou no meu quarto, iniciou o seu ritual acendendo uma imensa quantidade de velas ao redor dos meus pés.
Em pânico, gritei!
-Mãe, ela vai queimar os meus pés!
Era o desespero, a falta de orientação tomando conta dos meus pais.
Nesta situação de aflição, vendo a minha tristeza, minha mãe pediu dinheiro para meu pai, foi à loja de instrumentos musicais que nunca havia entrado e escolheu o violão desejando me dar um pouco de alegria e distração. Fiquei muito surpresa com o presente, mesmo criança tinha consciência da nossa situação financeira e percebia que era um luxo num momento difícil. Na cama, sem ter qualquer noção de teoria musical dedilhava as cordas do violão sentindo o amor dos meus pais através dos sons de cada nota.
A doença não parou de se desenvolver. Não conseguia mais dormir sobre o colchão macio, passei a dormir sobre uma tábua com as pernas bem retas. Peregrinações desesperadas aos consultórios continuaram até que uma pequena clínica infantil se ofereceu em assumir o caso me diagnosticando como portadora de paralisia infantil.
Apesar do empenho dos médicos da clínica, o tratamento não surtiu resultado algum e então o médico responsável resolveu solicitar ajuda de dois médicos renomados do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Eles chegaram muito sérios, não fizeram nenhuma graça comigo, tiraram minha mãe do quarto, me analisaram, estudaram meu prontuário, pegaram as minhas pernas duras como uma pedra e dobraram com decisão!
A dor que senti foi de ver estrelas!
Gritei tão intensamente que a minha mãe, ao me ouvir do outro lado da porta, desesperou-se e invadiu o quarto. O que estaria acontecendo com a sua filha?! Os doutores ficaram muito bravos, disseram que esta atitude em nada me ajudaria e a expulsaram imediatamente do quarto.
Minha mãe chorava tanto ou até mais do que eu.
Os médicos passaram à tarde comigo, conversaram muito entre eles sobre o meu estado e saíram.
Apesar de não terem sido simpáticos, graças a estes dois médicos chegamos a um diagnóstico correto da minha doença: Reumatismo Infeccioso ou  Febre Reumática, doença nada comum na época que, sem o devido tratamento, comprometeria o coração.
Seguiram-se dias de muita injeção, doses altíssimas e diárias de penicilina, alimentação completamente isenta de sal e muita vitamina C. Fiquei inchada como um balão, quase irreconhecível, mas fui curada. Ao receber alta do hospital que por meses permaneci, o médico me colocou no seu colo e me explicou com rigor e carinho o quão importante seria tomar as injeções mensalmente até me tornar bem adulta. Caso eu não respeitasse esta orientação meu coração não resistiria e pararia.
Um alerta assim, vindo de um médico, para mim, uma criança de seis anos, assustou-me tanto que jamais pensei em fugir das doloridas injeções. Era exatamente este o objetivo do médico, garantir que eu me responsabilizasse pelo meu corpo e me tornasse um adulto saudável. Até os meus vinte e um anos de idade, mês a mês fui aplicar a injeção com muita consciência. Graças a todos estes médicos, meus pais e meus tios, que foram muito presentes, fiquei completamente curada. Ao olhar para o meu violão, não necessitamos de palavras, as cordas que sobreviveram ao tempo ainda conseguem me fortalecer com sons graves e fortes e me acariciar com os sons agudos e suaves. Nós dois sabemos o que vivemos e sinto através dele o calor no meu coração. O calor do amor da minha mãe, meu pai e de tantas pessoas que me possibilitaram estar de pé, caminhar com as minhas próprias pernas há tantos anos e tenho certeza, ainda por muitos e muitos anos.

2 comentários:

  1. Naomyさん、こんばんは。
    先日は、私のサイトを訪れてくださり、
    ありがとうございます。
    Naomyさんのサイト、きっときっと
    心に響くエッセイが綴られているはずなのに、
    ポルトガル語が分からない自分が
    残念でなりません。
    一生懸命、翻訳ソフトを照らし合わせ、
    また、少しだけ知ってるフランス語と英語を思い描きながら、言葉ではなくて、
    言葉の温度やリズムで感じようとしています。

    イラスト、どれも可愛らしくて
    親しみ深いですね!
    私は絵がまったく得意ではないので
    羨ましく拝見しました。

    このギターも、濃いグリーンが美しいですね。大切にされて来た感じがします。

    言葉は分からなくても、
    またこちらには遊びに来たいと思っています。

    巡り会えたご縁に感謝!
    今日も良い一日をお過ごし下さい。

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  2. みゆきさん
    おいそがしい合間にこちらの blogにも
    訪れてくださってまことに
    ありがとうございます。
    私、うっかりT
    TRANSLATER 入れるの忘れていました。
    みゆきさんのおかげで きずきました。
    ちょっとへんな 翻訳になりますがそこは
    かんべんしてください。
    ひまがあればどうぞまたおよりください。

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