segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Caminhada.

Faz muito tempo que não tenho o volante de um automóvel em minhas mãos.
Tenho me locomovido por outros meios. Quando tenho compromissos em locais com distâncias mais amenas, eu vou caminhando. É uma recomendação quase imperativa dos médicos que se preocupam com a minha saúde e...volume corporal. Então eu sigo o conselho.
E é nestas andanças que um casal de idosos tem chamado a minha atenção.
Um casal de aproximadamente oitenta e mais alguns anos. Ambos bonitos, cabelos cor de neve, discretos e de modos elegantes costumam caminhar de mãos dadas, assim como meu pai fazia quando tinha ao seu lado a presença da minha mãe. Caminham devagar, passos de pessoas que já entenderam e aceitaram que a pressa e a ansiedade de nada servem. Passos de um casal que muito já construíram, agora, juntos parecem valorizar cada segundo do estar junto, do sentir o vento, apreciar a flor que emerge entre as rachaduras da calçada.
A cada nova construção que encontram pelo caminho, param, observam e o senhor carinhosamente coloca sua mão sobre o ombro da sua esposa e com a outra aponta para a novidade e assim os dois ficam contemplando cada inovação sem dar espaço para a pressa. Fico imaginando que relembram juntos o que lá existia antes que estes prédios comerciais grandiosos e vistosos impusessem suas presenças.
Não os vejo sorrirem, parecem não necessitar de nenhum recurso para expressarem seus sentimentos. Apenas falam baixinho um ao outro, poucas palavras, bem perto dos seus ouvidos. A saúde e a vida contemplou-os com a longevidade de ambos. Longos anos de convívio, de parceria e comprometimento... Imagino que assim como todos, devem ter enfrentado e vencido juntos os percalços e as dificuldades que a vida sempre nos reserva.
Mas juntos ainda permanecem e esta é a grande benção.
E eu fico observando estas duas pessoas lindas com o coração dividido entre a alegria pela felicidade deles  e uma tristeza  por tudo que minha mãe deixou de viver e que meu pai com a partida da sua amada deixou de prolongar estes momentos de carinho e companheirismo. Companheirismo de casal, amor que venceu por longos anos, impossível de substituir por nenhum outro, nem o amor filial ou qualquer outro amor parece ser capaz de preencher o enorme buraco que a ausência do grande amor da vida, costuma abrir  no coração.
Algumas vezes vejo o senhor caminhando sozinho então me preocupo.
Fico apreensiva.
Tenho vontade de perguntar pela sua esposa, mas não o faço.
Tenho medo da resposta.
Porém, alguns dias depois já o vejo novamente acompanhado da simpática esposa deixando-me tranquila.
Muitos meses se passaram sem vê-los e eu caminhava sempre à procura do casal, não sei onde moram, nem os seus nomes, meu coração se entristecia e temia:
-Será que nunca mais vou revê-los?
Como que para me tranquilizar, antes da virada do ano, vejo-os sentadinhos lado a a lado, acompanhados por uma moça que imaginei ser filha, na pastelaria do "sacolão", hortifruti do bairro.
Vi-os felizes deliciando-se, cada um com o seu fumegante e cheiroso pastel nas mãos!
Fiquei feliz e tranquila, com certeza, são  muito saudáveis!  Eu, ainda  muito longe de chegar à  idade deles, há muito tempo já não posso me deliciar com frituras por conselhos médicos imperativos e aterrorizantes.
-Bom Apetite e Vida Longa! Muito longa!

4 comentários:

  1. A lovely post dear Naomi, it is good when older couples have the companionship of each other, they are so familiar with each other they have their own language of expressions and gestures.
    It is sad when one wonders what will happen if one of them should become ill or even worse to die, it would leave a void that no other person could fill.
    Love, Dianne. xoxo ♡

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  2. Dearest friend Dianne,
    You can not imagine how happy I am with your comments!
    You understand me so well that I'm coming to the conclusion that we are childhood friends!
    Thank you very much by the time you devote reading my posts.
    A big kiss!

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  3. Bom dia, Naomy

    Que bom acordar e ler um relato de observações da vida cotidiana transbordante de ternura, lirismo e simplicidade.

    Mil abraços do Akira,

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  4. Bom dia!
    Quanto mais os anos passam percebo que
    as coisas cotidianas e simples
    nos preenchem de carinho e muito nos ensinam.
    Palavras de amizade como a sua muito me fortalece!
    Muito obrigada!
    Dois mil abracos!

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