domingo, 29 de novembro de 2009

Ensinar a desenhar, ensinar a olhar

Ao escrever sobre ensinar a desenhar no ultimo artigo que postei, fiquei com vontade de continuar neste tema. Ensinar qualquer coisa para qualquer pessoa requer muita responsabilidade. Até mesmo ensinar uma rua ou uma receita de bolo nos torna responsável por erros e acertos. Ao me decidir que ensinaria a desenhar fiquei preocupada e insegura pois comecei a pensar. Como poderia ensinar a desenhar se eu mesma tenho ainda tantas inquietações e limitações? Mas ao fazê-lo percebi que ensinar é um caminho de duas mãos, o aluno nos ensina a ensinar, o aluno nos faz estudar cada vez mais e muitos conceitos e experiências que acumulamos, ao transmitir a alguém se faz teoria. Aliás sempre tive muita sorte com os alunos, todos são extremamente interessados e absorvem tudo que oriento com muita humildade. Muitos alunos chegam preocupados se dizendo sem talento para o desenho, praticamente duvidando que conseguiriam desenhar algo apresentável. Então digo, você vai conseguir sim e você se surpreenderá com o que desenhará. Eles sorriem com cara de:
-Ah!, ela tá falando isso só para encorajar!
Eu insisto, você consegue distinguir uma esfera de uma elipse, uma bola de um ovo? Gosta de desenhar? Então vai desenhar sim! Desenhar é saber observar, olhar, arrisco até a dizer que desenhar é 50% olho e 50% mão.
Muitas vezes pensamos que sabemos o formato das coisas e ao desenhar recorremos à nossa memória para desenhar, não percebemos que precisamos de referência, olhar e analisar bem o seu formato para então representar. Existem muitos alunos que imaginam que ser um bom desenhista é saber desenhar qualquer coisa "de cabeça". Mesmo os melhores desenhistas se utilizam de referência real ou fotográfica.
Muitas vezes quando se trata de desenharmos cenas mais complexas é necessário simular as cenas, tirar fotografias para analisar e servir de referência para não cometermos erros.
No início, quando não conseguimos desenhar bem ficamos tristes. Para desenhar é preciso ser humilde assim como qualquer outro aprendizado. Aceitarmos com amor o que naquele momento, naquele estágio de aprendizado produzimos. Pode ser difícil constatar que o que criamos com toda a dedicação ainda é um filho feio. Mas também os desenhos nesta fase são carregados de uma pureza e ingenuidade ímpares.
É muito emocionante observar os alunos constatarem que estão desenhando como nunca imaginaram que conseguiriam. Não sabiam que existiam dentro deles desenhistas latentes que bastavam ser despertados.
Estes dias ouvi de um aluno, o Cema, profissional de tatuagem, que vem de muito longe, da cidade de Barra Bonita. Ao concluir um desenho muito bonito, entre suspiros, murmurou:
- E pensar que fui eu que desenhei isso!
Observei o seu rosto cheio de satisfação, um presente para mim e me senti gratificada e muito feliz!.

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