sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Equilíbrio.

Asfaltos e terras já caminhei por quilômetros,  pratos e pratos de arroz com feijão já vitaminaram meu corpo, uma infinidade de livros, cadernos e lápis enriqueceram minha mente, entretanto apenas recentemente comecei a perceber o mais simples e o óbvio das nossas buscas.
Uma palavra que esteve sempre perto de nós, palavra até comum, porém traz no seu conteúdo o quase impraticável.
Que atire a primeira pedra quem diga que é fácil praticá-lo.

"Equilíbrio"

De uma maneira moderada todos somos capazes de exercê-lo. Há quem diga que o excesso dele torna tudo sem graça, sem prazer e sem paixão. Ora, até mesmo praticá-lo faz-se necessário equilibrar-se.
Muitos fazem deste tema uma profissão tentando ensinar a colocar em prática o equilíbrio na vida das pessoas ministrando cursos de Yoga, Zen Budismo, Florais e tantos outros conhecimentos a favor do "equilíbrio" emocional, mental e corporal.  Livros e mais livros sobre o tema aguardam seus leitores nas vitrines das livrarias. Cursos e mais cursos abrem suas portas em busca de candidatos interessados em assimilar tais conhecimentos. Enganam-se aqueles que imaginam conseguir tal façanha quando finda a leitura ou o curso. Se todos os habitantes deste planeta fossem mestres em equilíbrio após a leitura de um livro ou com o certificado nas mãos não teríamos guerras, obesos, consumistas, work-a-holic, chocólatras e uma lista de desequilíbrios que assola a nossa vida.
É uma eterna busca, vigília, dedicação e perseverança sem folga nem férias.
Nunca gritei em público, nunca batí em ninguém, nunca atirei um vaso em ninguém como se faz em filmes, mas com certeza estou longe de ser um exemplo de moderação. Prova disto é que desde que me conheço por gente estou de dieta, falo alto, dou gargalhada barulhenta, quando estou trabalhando meu atelier fica intransitável com copos e xícaras de café, e chá por todos os lados, não posso entrar em livrarias que o meu consumismo se agita e... é bom parar por aqui.
Como fazer uma fisionomia elegante diante de um pudim suculento e dizer:
- Não, obrigada.
Como entrar numa livraria que é um jardim florido de tentações sem fazer estrago na sua conta bancária?
Como não se descabelar e gritar diante de um inseto prestes a pular sobre nós?
Como não gargalhar de boca aberta expondo as obturações dos dentes diante de uma boa piada?
Conheço pessoas razoávelmente equilibradas que não se abalam, não choram, não se assustam, não falam alto, são organizadas, econômicas, comem frugalmente, recusam sobremesa, estão sempre alinhadas sem um fio de cabelo fora do lugar. Estas pessoas vão se tornando meus ídolos. São pessoas que alcançaram o que não é possível para mim ainda. Ídolos,  significam seres inatingíveis, distantes, contudo à medida que vou me aprofundando na amizade acabo descobrindo que sempre existe algum caminho do subterfúgio, uma gastrite,
uma dor na coluna ou uma compulsão bem guardada e então respiro aliviada. Somos todos humanos com fraquezas, limitações e carências, do contrário não estaríamos aqui na terra.
A vida é uma eterna busca, uma humilde tentativa, um longo aprendizado. Cada vela sobre o bolo que vou assoprando sinto que vou me acalmando um tantinho,  vou perdendo um pouquinho da compulsão, tentando chegar ao equilíbrio.
Quem sabe daqui a cem anos andarei de monociclo sobre uma ponte suspensa.




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