terça-feira, 30 de agosto de 2011

Gentileza。

Ao pararmos diante do farol vermelho, percebi que o motorista do automóvel ao lado gesticulava intensamente chamando a nossa atenção. Entardecer de um domingo chuvoso no centro velho da cidade, muitas estórias ouvidas sobre perigos nos faróis, janelas totalmente fechadas, confesso que hesitei um pouquinho. Porém, logo observei que era alguém pedindo uma informação. Quantas vezes não estivemos nessa situação?
Abri minha janela discretamente para que a chuva não me atingisse e como se isso fosse me proteger de alguma forma do perigo.
O motorista do carro gritou:
- Por favor, eu estou perdido, não sou daqui, preciso chegar
   na Av. Nove de Julho. Pode me informar?
Eu que sou absolutamente ignorante no que se refere às ruas do centro da cidade, automaticamente olhei para o lado esquerdo, meu herói ao volante que tudo sabe em matéria de ruas e quebradas.
Imediatamente ele enumerou uma dúzia de ruas, mão e contramão, "direitas e esquerdas" que o homem deveria seguir.
Isto falado quase aos berros pois o barulho da chuva impedia a boa transmissão de sons.
Pela maneira que o homem franziu sua testa demonstrando desânimo, percebemos que estava mais confuso do que antes. Neste momento o farol nos pressionou com o seu "verde".
Estávamos bem longe da Av. Nove de Julho, com certeza o homem iria se perder.
-Vem atrás de nós! Nós deixamos o senhor lá.
Gritamos.
Enquanto o conduzíamos pelos meandros do centro da cidade, nós dois, mesmo em silêncio, tínhamos em nossa memória e no coração, o inesquecível dia em  que fomos assolados por um temporal no meio da estrada que leva à cidade de Assis. Também era entardecer, numa estrada sem acostamento, mão dupla e sem ilha central, estávamos sem nenhuma visão. A chuva batia intensamente e assustadoramente sobre os vidros do carro. Foram momentos desesperadores pois não enxergávamos absolutamente nada.
Para-brisas movimentando-se loucamente para a direita e para a esquerda, nada adiantavam.
Deveríamos estacionar? Mas onde? Nem ao menos podíamos ver se havia carro na frente ou atrás.
Seguir? A verdade é que estávamos entre a cruz e a espada.
De repente um vulto enorme, um caminhão baú com todas as suas luzes acesas e sinalizando
seu pisca-pisca, foi posicionando devagar na frente do nosso carro e como uma mão divina que pega nas nossas mãos, conduziu-nos devagar e com carinho, até a cidade de Assis. Fomos seguindo orientado apenas pelo farol traseiro do caminhão, única coisa que podíamos ver.
Quando o caminhoneiro teve certeza de que estávamos seguros estacionado em um posto de gasolina, ele acenou com a sua deliciosa buzina e seguiu seu caminho.
Nós também buzinamos, com o coração cheio de gratidão para aquele ser humano que nunca saberemos seu nome, seu rosto, mas iremos sempre lembrar, agradecer e imitar.
Sempre que for necessário iremos fazer o mesmo que ele fez por nós, uma lição desse caminhoneiro bondoso que estendeu a sua mão para nos socorrer, apenas por humanidade, proteger, garantindo a segurança de seus semelhantes.
Enquanto eu aquecia meu coração com estas recordações já havíamos chegado na Av. Nove de Julho.
Abri a janela. A chuva já dava trégua, indiquei a placa da rua e acenei com a mão, o homem sorriu e empinou seu polegar. Buzinamos em sinal de despedida e o motorista  nos retribuiu buzinando várias vezes em sinal de agradecimento.
Enquanto fazíamos o retorno para voltarmos ao nosso caminho,
perguntei ao meu mestre de ruas da cidade:
-Você se lembra do caminhoneiro de Assis?
Ele respondeu:
-Eu estava exatamente pensando nele.
Jamais esquecemos uma gentileza recebida.
Gentileza constroi gentileza.

sábado, 20 de agosto de 2011

100...


Centésima postagem...
A cada postagem coisas do fundo do meu coração, que muitas vezes meu próprio racional desconhece, se mostram.
Ao escrever, tenho a sensação de que esboça-se um pouco quem sou.
Dias seguidos pensei sobre o que escreveria nesta postagem número 100.
Após concluir 99 observações, confissões e desabafos o que eu teria mais para compartilhar?
E de repente, a suave voz do meu coração disse-me baixinho:

- Ei! Preste atenção! Quando você se entrega à reflexão para poder escrever, você vai se formando.
  Coisas nebulosas até mesmo para você se tornam mais visíveis.
  Você tem apenas 100 coisas para refletir, dizer e concluir?
  Tem noção da quantidade de oportunidades que você viveu?
  E as tantas pessoas que você conheceu através deste espaço? 
  Quando você teria se comunicado tanto assim com pessoas de várias partes do Brasil e até de outros continentes?

Fiquei ao mesmo tempo envergonhada e emocionada.
Realmente...
Sou muito feliz quando escrevo, sinto-me em paz quando desenho.
Faço com muito amor, com muito prazer.
Como anda o meu patrimônio maior, minhas emoções, meu coração que está além das veias?
Seria necessário realizar um Balanço?
Ao assinar meu Balancete conclui que só há Receitas. Despesas não existem.
Hoje percebi, nesta centésima postagem, que acabei de descobrir o segredo de uma empresa próspera e gratificante!
Uma empresa onde só existem ganhos!
Como poderia acontecer tal façanha?
Simplesmente utilizando-se de antigas estratégias, exatamente aquelas utilizadas pelas nossas mães e avós...
Estratégia 1 : "Fazer com Amor"!
Estratégia 2 : "Fazer por Prazer"!
Quando fazemos apenas por amor, quando o objetivo único é nos proporcionar satisfação, só existem ganhos.
E quando estes ganhos chamam-se "Amor e Amizade" a cotação será elevada ao infinito...
Hoje estou me sentindo muito próspera ao postar esta centésima postagem
e tenho certeza de que vontade não me faltará para mais cem.
Muito agradecida à todas as palavras gentis dos carinhosos visitantes e seguidores amigos!

domingo, 14 de agosto de 2011

Feliz Dia dos Pais.


Pai, "Feliz Dia dos Pais!"
Por quantos anos já escrevi e ainda escrevo, sobre um cartão,
esta frase rodeado de corações, flores e estrelas.
Para uma criança, presentear o pai com o desenho de um coração
é a representação máxima do amor que queremos entregar.
Flores são o símbolo do que há de mais belo.
Estrela, pois o estúdio fotográfico do meu pai se chamava
"FOTO ESTRELA".
O que podemos oferecer para aquela pessoa que sempre foi
o nosso protetor, orientador e mesmo
quando as idéias não se compatibilizavam
tivemos e temos a segurança de discutir e brigar pois
temos consciência do seu amor por nós.
Tudo que se compra nunca representará
nem um milésimo ao cubo
do que queremos agradecer
e demosntrar o nosso amor.
Palavras não existem para exprimir o que se chama Amor.
Amor que foi cultivado por tantos anos de companheirismo,
de cuidado e de proteção mútua.
Não é possível descrever a dimensão do amor que sentimos por um pai.
O possível é estar perto dele, cuidá-lo, acompanhá-lo,
trocar idéias, até discutir é permitido 
defendendo a minha ideologia e ele a dele, 
 demonstrá-lo que nada mudou,
que ainda somos aquele pai e filha de tantos anos atrás.

Pai, eu te amo.
Obrigada por ser meu pai.
Feliz Dia dos Pais!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

1a.FELIT - SBC - FNLIJ


Hoje foi o dia da minha participação na FELIT (Feira Literária)- São Bernardo do Campo a convite do FNLIJ- Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil.
Já faz algum tempo que não me via numa situação assim.
Desenhar diante de um espaço lotado de crianças, sobre um papel gigantesco e com o tempo marcado para encerrar. Uma situação muito diferente do meu cotidiano de uma ilustradora. Quando trabalho no meu atelier-quartinho, fico sózinha, muito à vontade, trabalho sobre a minha mesa, num papel não tão grande ao som de uma música. Rabisco, rabisco até esquentar a idéia, erro, arrumo sem que ninguém me veja e no final todos vêem apenas aquela ilustração prontinha.
Na apresentação do Performance do Ilustrador desenhamos em pé, num painel na vertical, bem maior do que a minha altura. Atrás de mim muitas crianças, com seus olhinhos brilhantes, à espera do desenho que sairá das minhas mãos. É um desafio interessante,  um tanto tenso, mas muito proveitoso. Enquanto desenhamos as crianças vão fazendo perguntas e isto vai nos deixando mais à vontade. Crianças são sempre muito graciosas e também surpreendem com perguntas interessantes que muitas vezes nunca havíamos pensado a respeito. São também muito generosos e gentis, fazem questão de nos transmitir que estão gostando muito, que está ficando bonito.
No final quando foram comunicados que a apresentação já estava encerrando, muitas crianças ficaram ansiosos querendo fazer perguntas e também faziam questão de me contar o que sentiram.
Cada palavrinha destas lindas crianças absorvi, com gratidão, em forma de energia,  me deixando feliz e com vontade de desenhar cada vez mais.
Ao encerrarmos, uma menina miudinha que a sua altura batia na minha cintura (e olha que sou muito baixinha), chegou correndo perto de mim, olhou carinhosamente, me abraçou forte e assim permaneceu um tempão sem  nada dizer, olhou novamente e com um sorriso meigo disse baixinho:
-Obrigada!
Nossa! Que delícia!
Eu é que devo agradecer muito por tanto carinho destas crianças fofas!
Muito obrigada por vocês existirem!



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Essencial.


No bairro onde moro tem, acredito que no seu também tenha.
No meu bairro tem um morador que elegeu as calçadas como a sua residência.
Morador itinerante, cada dia numa calçada, de preferência as mais amplas, ensolaradas, com boas coberturas.
Convidou para acompanhá-lo na sua vida cigana, dois cachorros. Bem tratados, os cachorros têm seu quinhão garantido nos cobertores e nas refeições que dividem igualmente em três partes.
Móveis e utensílios? Guarda-roupas? Não, nada disso é necessário, ele é um homem livre de todos estes instrumentos que fazem volume, obrigando-nos a arcar com espaços maiores e então passarmos a vida pagando aluguéis ou financiamentos imobiliários e valores altos em taxas de condomínios.
Ele parece muito satisfeito com a sua vida, sempre cantando alto, espalhando-se nas calçadas e os cachorros mais felizes ainda, pois têm a companhia constante do seu amigo, dono e rei.
Tudo que eles possuem e carregam pela vida se encaixa num pequeno carrinho de supermercado que possui(não sei de que forma). Dois enormes cobertores e um saco de lixo preto com alguns pertences.
Televisão? Para que ele precisaria de um? Nas ruas ele assiste a movimentação em tempo real, cenas da vida ao vivo em todas as cores, sem interferência da máquina. Rádio? Não, também não precisa, ele canta, canta uma música improvisada, onde ele declama seus sonhos e desabafos.
Observava esta cena enquanto eu aguardava o farol de pedestres me sinalizar passagem.
Uma senhora se aproximou de mim e comentou:
- Como este homem é leve! Eu tenho tanta "bugiganga" na minha casa! Me dá um trabalhão mantê-los!
- Pois é...
Respondi e antes que eu completasse a frase ela tirou as palavras da minha boca.
- Do que realmente nós precisamos para viver? Lógico que não precisaria chegar a imitar este homem,
mas eu tenho certeza que não preciso nem da metade das coisas que eu tenho lá em casa.
- É...
Eu também pensava exatamente sobre isso.
O que realmente é indispensável para nós? O que caberia na nossa mala de viagem se resolvessemos ser andarilhos?
Nos espalhamos tanto egoísticamente pela vida e pela nossa casa que ficamos sem condições de elegermos o que seria absolutamente essencial para a nossa vida e assim vamos acumulando coisas.
Falar sobre o que é materialmente essecial em nossa vida parece difícil. Deixaremos para pensar com mais calma.
E sentimentalmente o que escolheríamos como essencial em nossa vida?
Ah! Isso não me deixa nem um pouco confusa.
Tudo que cabe na minha pequena mala de viagem da vida é:
Amor, Amizade e Fé!