quinta-feira, 11 de março de 2010

Sem medo de voar.


- Naomy, eu tenho medo de desenhar.
Uma aluna nova confessou-me sincera-mente durante a nossa conversa inicial. Uma confissão
assim inesperada me pegou totalmente de surpresa. Olhei para o seu rosto para me certificar se tratava de uma brincadeira ou se falava de coração.Vi nos seus olhos uma sinceridade quase envergonhada demonstrando até uma certa culpa parecendo também um pedido de socorro. Percebi através dos seus gestos uma ansiedade em ouvir a minha resposta.
Precisei de alguns minutos de reflexão para fazer
qualquer tipo de comentário, pois a sua confissão merecia muito respeito e cuidado. O que eu poderia dizer a uma pessoa que me contava o que se passava no íntimo dela? Afinal se ela não ligasse profundamente para esse medo, não se sentisse incomodada com a situação não iria atrás de uma pessoa que pudesse lhe ensinar a desenhar.
E então mais serena, lhe fiz uma pergunta:
- E mesmo assim você gosta de desenhar?
Neste instante o seu rosto e o movimento das suas sobrancelhas demonstraram surpresa, talvez pela sua própria resposta que veio naquele instante na sua mente e ela respondeu pausadamente.
- Si..m...
- Então que tal gostarmos mais ainda dele e não ter medo dele. Quando gostamos de alguém, queremos namorar alguém, gostaríamos de conhecê-lo melhor, aprender mais sobre esse alguém, não é?
- Si...m...
-Preciso te dizer mais alguma coisa? O que você acha da minha proposta?
Depois desta minha resposta ela sorriu e através dele observei que se acalmara como se visse uma luz no fundo do túnel.
Mas aquela confissão é a mesma de muitas pessoas que tem a arte como ofício, inclusive a minha própria. Ao desenharmos estamos registrando a nossa alma, as nossas emoções sobre um papel imaculado. Estamos nos expondo principalmente para nós mesmos.
Tudo que temos de bom e de ruim dentro de nós parece transparecer através dos nosso traços e cores. E como é difícil constatarmos quem realmente somos, em qual estágio de amadurecimento estamos naquele momento. Por isso sinto que é tão importante chegar ao aluno com amor, oferecendo apoio, encorajando-o e principalmente incentivando-o a respeitar o seu próprio desenho esteja em que estágio estiver. Mostrar a eles que eles podem mais, muito mais se desenhar com amor e capricho através do carinho. Que eles podem voar sem medo ao encontro do crescimento e amadurecimento artístico. Parece jocoso e piegas escrever sobre isso mas não tenho vergonha de confessar que eu tenho muito amor pelos meus alunos. Não sou candidata a nada, nem preciso adular, apenas não tenho vergonha de confidenciar o meu amor sincero pelos meus alunos, o meu desejo de vê-los todos felizes e plenos com as suas artes e o que eu puder ajudá-los para mostrar os caminhos e as quebradas para chegar onde eles almejam chegar, estarei sempre aqui em terra, firme e forte.

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