terça-feira, 23 de março de 2010

"Essa mãozinha vai longe" - Editora do Brasil


-Tia Naomy, sabe, este ano vou estudar com um livro que a senhora ilustrou!
O nome do livro é "Essa mãozinha vai longe". É livro de caligrafia!
Com a sua voz terna e um sorriso meigo meu sobrinho contou-me a novidade assim que entrei na sua casa.
-Tia Naomy, eu mostrei para meus amigos, eu disse que a ilustradora deste livro é minha tia! O sobrenome é igual ao meu!
Puxando um pouco o "o" do meu nome Naomy, como ele sempre faz, contou-me animado com um certo orgulho. Tia "corujona" como sou,  fiquei me derretendo de alegria e ao mesmo tempo senti muita gratidão em viver esta situação. Eu desenho, os desenhos viram ilustrações de livros didáticos, os livros são impressos, vendidos e um deles  para na mão do meu amado sobrinho que faz questão de contar aos amigos que aqueles desenhos foram feitos pela tia dele. Fiquei feliz, ele tem orgulho da profissão da tia, se ele não achasse interessante não contaria aos amigos, pensei.
Diante de crianças menores tenho vivido algumas situações interessantes e algumas "saias justas".
Certa vez uma colega de trabalho fez questão de me apresentar ao seu filho que estudava com um livro que ilustrei.
- Olha, filho, esta é a tia que fez os desenhos dos livros que você tem!
Contou ao seu filho, toda animada, minha colega. A reação do seu pequeno filho foi muito inusitado.
Me olhou de lado, olhar desconfiado, entortou o cantinho da sua pequena boca e disse:
- Ah, vai, mentira! O livro quem faz é fábrica!  Não é essa tia, não!
E todas rimos muito e o menino ficou me olhando feio como se estivesse me acusando de "enganadora de crianças".
Numa outra oportunidade, num desses encontros de família, estávamos todos reunidos e novamente surgiu a
minha profissão como assunto do dia. Uma das primas do meu marido disse à sua filha de seis anos:
- Filhinha, essa tia que é a tia Naomy! Lembra desse nome que está na capa do seu livro "O Dedal da Vovó"?
Então, é ela que fez aqueles desenhos!
Todas as atenções se voltaram para mim e para esta pequena garota com um ar de muito viva e inteligente.
Ela me olhou de cima a baixo, me analisou, pensou e deu o seu veredicto:
- Duvido, ela não tem cara de quem desenha aqueles desenhos não.  É mentira!
Nesta altura eu já estava vermelha, com a autoestima em queda livre, com mil dúvidas na cabeça.
-Puxa! Cara de quê eu tenho? Todos dizem que as crianças são sinceras e destemidas, eu, justamente por isso, sempre tenho medo das opiniões que vão sair da boquinha das crianças.
Ela continuou:
-Se você tá dizendo que é verdade, desenha aí que eu quero ver se sabe fazer igualzinho! E ainda ela veio com esta! Nestas alturas alguém já havia providenciado uma caneta e um papel.
Lá fui eu desenhar a vovó do livro citado morrendo de medo que não saísse parecido, pois já fazia muito tempo que eu havia ilustrado o tal livro. Bem, desenhei rapidamente e submetí ao seu parecer.
Ela olhou desconfiada, analisou, pensou, levantou o seu rostinho e disse com um certo ar de superioridade:
- É..., pode ser. Não sei, pode ser...
Crianças, seres maravilhosos que enriquecem e alegram as nossas vidas!

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