segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

À espera do Ano Novo!

Lentamente, sobre a terra, giramos novamente por trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas ao redor do sol.
É impossível deixar de pensar sobre o que fiz durante todos estes dias, horas e minutos neste ano que se finda. Vejo a minha agenda-calendário e verifico que tive uma enorme quantidade de compromissos e obrigações que fui cumprido a cada dia. Constato também satisfeita que este ano além das obrigações me empenhei em agradar também a minha alma.  A cada mês vejo lembretes dos dias agendados para assistir a peças teatrais, concertos e exposições que fui ticando a cada evento que contemplei.
Cada um tem a sua maneira de preencher e satisfazer a sua alma. Indo a um bom restaurante, fazendo compras, indo aos salões de belezas, viajando, namorando...
Para mim o que me alimenta, me revigora é apreciar as obras que são frutos do talento e do esforço artístico do ser humano.
Nossos prazeres são mutantes e evoluem juntamente com a nossa maturidade. Na minha infância por exemplo o que me dava um enorme prazer era desenhar, brincar de faz-de-conta, me transformando em professora, médica, enfermeira, desenhista ou estilista. A cada etapa da vida vivemos tão centradas em nossas buscas que muitas vezes deixamos de perceber a quantidade estonteante de dias e horas que caminhamos e respiramos a cada ano.
Na adolescência, não percebi o tempo passar me concentrando na descoberta da paixão, vivendo e registrando meus sentimentos nos meus diários. Na pós-adolescência não reparei o tempo passar me dedicando nos estudos e correndo atrás dos meus sonhos. Conseguir uma vaga numa universidade pública, escolher a minha futura profissão era tudo que importava. A cada consquista fui feliz sentindo que os dias e os anos não haviam sido em vão. Atingindo a maioridade, já formada e empregada a vida se estabilizou, vivi dias, meses e anos de calmaria sem grandes agitações nem emoções, até encontrar um grande amor. Já mais madura me deparei com uma inevitável encruzilhada.  Fazer a escolha entre a  profissão dita "segura" ou transformar em profissão a minha paixão, o desenho, a ilustração.
Não posso dizer que tenha sido fácil, muito menos que o caminho não tenha sido íngreme e mais uma vez não vi o tempo passar. Sinto que cheguei rápidamente aos dias atuais sem olhar para a contabilidade do tempo. Graças a Deus cada dia, cada ano foi gratificante por tudo que aprendi, pelas pessoas que conheci e principalmente por ter aprendido a me conhecer, saber dos meus limites, da minha garra, de entender como a vida acontece e descobrir a minha real paixão. Aprendi a não ser tão exigente com os outros e principalmente comigo mesma, saber esperar, perceber que não se consegue encerrar tudo que começamos apenas por que o ano se finda, que não podemos nem conseguimos entrar para o novo ano com tudo resolvido, sem pendências e que as coisas não acontecem como gostaríamos e sim como deve ser, cada coisa a seu tempo.
Lembro-me que quando criança, minha mãe, eu e a minha irmã limpávamos toda a casa, arrumávamos tudo, canto por canto até os últimos minutos do último dia do ano para iniciarmos o novo ano com tudo limpo, lavado, passado e novo! No primeiro dia do novo ano estávamos exaustas, contudo começávamos o ano com a sensação de começar do zero, se é que isso é possível. Hoje, tento deixar a vida em ordem até onde consigo, tendo a consciência de que nem sempre o que consigo é tudo que gostaria e que nem por isto sou menos feliz, muito pelo contrário.
Procuro me poupar, ser menos rígida comigo, me permitir ter fôlego, respirar para continuar caminhando tranquila ainda por muitos anos, usufruindo da vida e completando o meu aprendizado.
Entender que o ano é a consequência do anterior e que o ano que se finda passa a ser história para se viver o outro utilizando-se das experiências e recordações acumuladas de todos que vivemos até hoje!
Feliz Ano Novo!
Que o ano de 2011 nos traga muita paz nos nossos corações e os aqueça com muitas alegrias!
Muito obrigada à todas as pessoas que me fazem feliz me cercando de carinho, dedicando-me amor, cuidando de mim, ajudando-me a viver forte com coragem e alegria!
Muito obrigada à todos os leitores e seguidores do meu Blog me emprestando seus olhos e sentimentos para compartilhar os meus!
Desejo intensamente à todos muita sorte, saúde e Amor!
Convido a todos que continuem me visitando em 2011 escrevendo-me as suas apreciações.
Um grande beijo no coração de todos!
Naomy Kuroda.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Feliz Natal!


- O que é que você quer ganhar de presente no Natal?
Perguntou, o meu amor.
Quando alguém nos dá esta oportunidade e liberdade, nossos olhos giram, giram à procura de algo muito especial.  Cheia de ansiedade para aproveitarmos da situação e escolher um presente caro ou alguma coisa que não podemos ganhar no dia-a-dia, acabamos por não chegar à nenhuma conclusão. Muitas coisas passaram pela minha cabeça, mas é claro, não poderia exagerar, pareceria que sou interesseira,
então fiz "um doce". 
Com uma voz humilde e delicada respondi:
- Ah, não sei... não esquenta, tenho tudo que preciso, você!
Aguardei em seguida que ele insistisse na proposta. Cheia de esperança já havia preparado uma resposta, porém sendo ele experiente, astuto e brincalhão disse:
- Ah, não vai querer nada, que bom, então vou comprar algo para mim.
Sorriu se divertindo e esperou minha reação.
Enquanto fazíamos este jogo minha memória convidou-me a entrar na máquina do tempo.
Topei. Viajei, viajei pelo tempo e cheguei à minha infância. Uma época em que ganhávamos presentes apenas nos aniversários e nos Natais.  Dia das crianças, nada ganhávamos  e  na escola cantávamos:
- Criança feliz, feliz a cantar...
http://letras.terra.com.br/turma-do-re-mi/145018
Realmente mesmo sem presentes éramos felizes, muito felizes!
Nos aniversários ganhávamos livros de "Mangá"(HQ japonês). Natais, às vezes brinquedos ou roupas...
A máquina do tempo me conduziu ao tempo em que ainda acreditávamos em Papai Noel. Eu e a minha irmã de pijama e camisola, pendurávamos as nossas meias na janela e nos preocupávamos com o tamanho das nossas meias que eram muito pequenas. Temíamos que os nossos presentes seriam minúsculos como os nossos pés. Havia um outro grande problema:  a necessidade de adormecer o quanto antes, do contrário, Papai Noel não nos visitaria e consequentemente não ganharíamos os presentes.
Tentava de todas as formas pegar no sono, contar carneirinho, fechar bem os olhos, mas a ansiedade me deixava totalmente vigilante.
Entrei em desespero, comecei a chorar pedindo socorro para minha irmã:
- Não consigo dormir, o que vamos fazer, o Papai Noel não virá...
Minha irmã, do alto da sua serenidade de irmã mais velha apenas repetia:
- Dorme, dorme quietinha...
Chorei, chorei, cansada, adormeci.
Na manhã seguinte os nossos presentes estavam lá.
Não eram grandes, entretanto não estavam dentro das meias, estavam ao lado dos nossos travesseiros.
Comparados aos brinquedos de hoje o nosso presente era tão singelo e de tão singelo, era especial, cheio de amor. Era um brinquedo feito de lata, um boneco sobre uma bicicleta que ao dar corda girava, girava e atrás do seu assento girava também algo como um peão e o seu desenho de redemoinho rodava, rodava e então ficávamos  paralizadas contemplando este brinquedo tão lindo! Cada uma com o seu brinquedo nas mãos, sorríamos com o coração cheio de gratidão e felicidade! Hoje, tenho quase certeza de que no fundo percebíamos que eram presentes comprados pelos nossos pais. E sentíamos docemente o carinho deles nos nossos corações.
Tantos presentes lindos e especiais já ganhei até hoje, porém sempre acabo me recordando deste brinquedo que nos foi presenteado numa época de difícil situação financeira, mas que meus pais jamais nos privaram de vivermos a alegria de receber um presente com um pouco de magia, cor e  alegria.  

FELIZ NATAL!
Que o presente que nos aguarda neste Natal seja a Amizade, Carinho, Magia, Sonho e Muito Amor!
Naomy Kuroda

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sembazuru (1000 tsurus)

"Dedicação", "Perseverança", "Generosidade", "Carinho" e "Amor".
Acredito que 1000 tsurus de origami representam lindamente estas palavras.
"Tsuru", palavra de origem japonesa que significa ave aquática "grou".
Tsuru também é o simbolo da arte do Origami japonês. Origami, arte da dobradura (ori= dobrar e kami=papel / Kami escrita em outro ideograma significa Deus) onde tsuru é a representação da saúde, felicidade e sorte.  Diz-se no Japão que  ao dobrar 1000 tsurus desejando ao próximo saúde, felicidade e boa sorte a cada dobra, o pedido será atendido.
Para uma breve história sobre esta arte e o seu  significado: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/origami/origami-3.php.
Na sala da minha casa tenho o prazer de contemplar diáriamente um lindo móbile com 1000 tsurus fruto de um amor sincero de uma pessoa que entrou na minha vida através de um outro amor, do meu irmão por ela.
Minha cunhada, esposa do meu irmão, mãe dos meus dois amados sobrinhos. Uma irmãzinha querida, minha amiga de risadas, brigas, lágrimas,  fofocas, mas principalmente de uma amizade sincera e verdadeira. Dedicar algo a alguém é muito fácil quando compramos e presenteamos. Presentearmos alguém com algo que confeccionamos é outro sabor, outro amor e outro empenho. Há alguns anos, num momento difícil da minha vida, recebi um grande pacote de presente num dia que não era meu aniversário nem dia de Natal. Minha cunhada me entregou o pacote sem nada dizer. Sem entender nada ao abrí-lo e  perceber que se tratava de "Sembazuru" confeccionado e dedicado a mim, lágrimas subiram em golfadas do meu coração, nada consegui falar. "Arigatou" (muito obrigada em japonês), única palavra que saiu da minha boca entre soluços, expressava todo meu sentimento de gratidão pela sua amizade sincera e amor que ela dedicava a mim, assim como o meu sentimento de felicidade pela existência de uma pessoa que torcia por mim e dizia através dos tsurus, "Nós te amamos".   A cada  intervalo dos seus afazeres, que não são nada poucos, ela havia dobrado 1000 micro tsurus me desejando saúde, felicidade e boa sorte a cada dobra.
Diáriamente frequentava a casa dela, nunca havia percebido nem rastro do que ela estava confeccionando para mim. Meus sobrinhos, tão pequenos ainda, souberam manter-se firmes no silêncio para fazer a surpresa para tia. Confeccionar 1000 micro tsurus de origami em tão pouco tempo cuidando dos seus dois filhos, marido  e agenda cheia, só com muita dedicação, perseverança, generosidade, carinho e amor.
Tenho uma imensa gratidão e orgulho desta irmãzinha que faz parte da minha vida me fortalecendo e me ensinando que amor não precisa ser anunciado, apenas dedicado e sentido. São estes gestos que concretizam a existência de um sentimento, não palpável em absolutamente real.
Mais um Natal está para chegar.
Natal, aniversário do menino Jesus.
Jesus que nos ensina a amar,  perdoar, agradecer, encontrarmos o único e grande propósito da vida que está muito longe dos shoppings centers e das comilanças.
AMOR, o grande e único propósito da vida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Rejeição.

Algumas palavras e os seus significados bloqueiam e dificultam as nossas vidas.
Tenho certeza, Deus nada criou que não seja necessário para o nosso aprendizado e crescimento.
Mas este aprendizado nem sempre é rápido e muito menos indolor.
Rejeição é uma delas. Muitas dificuldades, sofrimentos e problemas com a nossa auto-estima perderiam a sua noscividade se a palavra "rejeição" desaparecesse dos nossos sentimentos. Contudo, ela existe, sofremos, mas com algum esforço superamos. Sózinhos ou com a ajuda de terceiros, profissionais ou não, vamos entendendo o mecanismo da rejeição para então tornarmos fortes e inabaláveis.
Ao receber telefonemas de candidatos a se tornarem alunos de desenho sempre costumo perguntar se já desenham. Praticamente cem porcento das pessoas que estão do outro lado da linha, respondem com evasivas. Mesmo aquelas pessoas que depois ao primeiro contato vejo que são desenhistas experientes, nunca respondem afirmativamente.
Presumo que isso seja a humildade dos artistas, porém até mesmo pela minha própria experiência, sei que ao afirmarmos que somos desenhistas tememos saber a reação das pessoas ao apresentarmos os trabalhos. Medo de decepcionar e da rejeição através das críticas.
Pior ainda é o medo da própria rejeição. Muitas vezes quando estou diante de um papel, ao dar o primeiro traço sinto um certo friozinho na barriga, uma ansiedade, uma preocupação se algum traço feio, mal feito se espalhará sobre o imaculado papel. Medo de me decepcionar com o meu próprio traço. E quando a expectativa é sanada com sucesso, até sorrio feliz. Que coisa estranha e ao mesmo tempo complicada.
Tive um professor, grande aquarelista, que se negava a pintar rodeado pelos alunos, pois ele dizia que os alunos costumavam superestimar o professor imaginando que o artista é uma máquina de fazer arte, não percebiam que o artista tem os seus dias de inspiração e não. E aquele dia poderia ser justamente um dia ruim. A obra nem sempre é aquele trabalho que saiu na primeira pincelada, pode até acontecer, mas também poderá ser o último de uma montanha de trabalhos descartados. Ele dizia que não seria justo ser alvo de um julgamento e crítica dos alunos, por apenas um dia ruim.
Em todas as profissões o fantasma da rejeição é sempre um temor difícil de ser superado.
Atores, modelos e muitos outros profissionais precisam conviver diáriamente com a rejeição. No relacionamento amoroso, familiar, a cada dia convive-se com amor, mas também com a rejeição. É preciso aprender a não se machucar a cada novo contato com a dita cuja. Não é fácil.
Uma certa vez ajudei uma amiga a divulgar o seu curso de idiomas. Distribui panfletos na avenida Paulista! Avenida Paulista, uma grande avenida comercial, empresarial onde um número incalculável de pessoas transitam muito apressadamente. Isto foi para mim um desafio e um grande exercício de humildade e coragem. Não existe nada mais difícil do que tentar interromper os passos de uma enxurrada de pessoas que transitam pelas ruas apressadíssimas e ao entregar o panfleto, ser bruscamente rejeitada. É um  exercício e tanto para se acostumar com a rejeição. A grande maioria das pessoas olhavam feio com uma certa irritação, outras simplesmente não nos enxergavam, nos ignoravam. No entanto, existiram aquelas pessoas que delicadamente aceitaram, sorriram e até agradeceram. Era o instante que nos apaziguava o coração. Depois desta minha experiência, ao passar pelas pessoas que distribuem propagandas e panfletos nas ruas, aceito e agradeço com um sorriso pois sei como isto faz a diferença. É um trabalhador que está o dia todo na rua, sob o sol forte para garantir o seu sustento. No meu caso, mesmo sendo com o propósito de colaborar com uma grande amiga, foi uma experiência nada fácil.
A rejeição existe por todos os cantos, a todos os instantes, mas com entendimento e compreensão do outro e com um pouquinho de boa vontade poderemos atenuar algumas pontadas no coração que ela provoca.
Aceitamos ou tentamos aceitar com serenidade que aquele "Não!"  não é nada pessoal, não é pelo que somos. É apenas o resultado de uma opção entre o "Sim" e o "Não". E sem o ponto de exclamação.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Essencial.

- Naomy, o que é "essencial" na sua existência?
Uma querida amiga, não, querida é muito pouco, uma grande amiga, uma amiga verdadeira, uma irmã, daquelas pouquíssimas jóias preciosas que temos em toda a nossa vida, me perguntou, de repente.
Fiquei por um instante exitante, afinal temos tantas coisas essenciais na vida. Ela me ajudou.
- O que ou para o que você acharia que valeu e vale a pena viver?
E mais uma vez muitas coisas passaram pela minha cabeça.
Tantas coisas fazem a nossa vida valer a pena!
Família, conhecer pessoas, ensinar, doar-se, amizades... amar!
Ah! como vale a pena amar e ser amada, dar carinho e receber carinho, cuidar e ser cuidada!
Ela me ajudou mais ainda para organizar meus pensamentos e direcionar a uma única resposta.
- O que seria o marco da sua existência?
Então não tive dúvidas!
- Ah!  O desenho! Ele me dá identidade, me faz sentir que existo, me anima e me ensina a lutar.
Só eu consigo sentir a dimensão da palpitação que sinto a cada nova proposta, o frescor de cada novo desafio e a gratidão que sinto a cada nova oportunidade.
Eu me pergunto:
-Se eu ganhasse uma fortuna na loteria nunca mais desenharia? Passaria o resto dos meus dias em alguma praia, esticada sobre uma toalha na areia, tomando um suco?  Jogaria todos os meus materiais de desenho pela janela a fora?
-Com certeza, não! Pois desenhar é o que faço desde que me conheço por gente, desde que nada sabia sobre valores materiais, apenas pelo prazer de criar e colorir o meu mundo. Evidentemente seria uma pessoa menos preocupada com as contas no final do mês, contudo mesmo milionária desenharia sim e de preferência, para algum livro. Sentiria a mesma palpitação a cada novo texto, seria a mesma Naomy que encontraria satisfação ao transformar em imagens cada cena, cada sentimento. Isto sim é impagável.
É realmente algo essencial, independentemente de ser um bom desenho ou não é o caminho que me possibilita externar como recebo e sinto a vida. É algo que faço nos momentos felizes, infelizes, difíceis e fáceis por que é o que me acalma, me interioriza, faz meu coração bater mais forte e me possibilita renascer!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Página do Ilustrador - AEILIJ Paulista

                                  http://www.aeilijpaulista.blogspot.com/


A convite do ilustrador Danilo Macedo Marques e da escritora Regina Sormani tenho o prazer de apresentar os meus trabalhos na "Página do Ilustrador - Edição 10 - Novembro/2010" do AEILIJ- Paulista(Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil do Estado de São Paulo).

Danilo Macedo Marques  - http://www.danilomarques.com.br/
Regina Sormani - http://www.vivaolivroinfantil.blogspot.com/

Convido a todos para que façam uma visita!
Muito obrigada,
Naomy Kuroda

domingo, 24 de outubro de 2010

As melhores coisas do mundo.

Assistindo ao filme "As melhores coisas do mundo" de Lais Bodanzky refleti sobre vários temas da vida e do comportamento humano.
Em primeiro lugar, me atingiu profundamente a idéia do preconceito, pré-julgamento, que por mais que pensamos estar imunes, não estamos. Inicialmente fiquei muito surpresa ao constatar que os jovens adolescentes que considero livres, modernos e inovadores também carregam dentro de si  ideologias conservadoras e preconceituosas e ao mesmo tempo são vítimas delas. Alvos também do inconsciente coletivo, discriminação e do julgamento banal de comportamentos alheios. E no meio disso tudo eles precisam sobreviver sem saber o caminho que devem seguir, como entender seus próprios sentimentos, sem orientação pois os adultos também vivem sem certezas sem definições das idéias, dos próprios sentimentos e como devem se comportar para não sofrerem acusações de reacionários e antiquados. Pensando nisso tudo também fiquei muito surpresa com o meu próprio pré-julgamento que me faz pensar que os jovens de hoje são livres, modernos e inovadores, como se fosse mais fácil e simples ser adolescente nos dias de hoje. O que me faz pensar que eles sejam tão diferentes do adolescente que um dia fui? São apenas jovens que foram gerados e criados pelos adultos de hoje, adolescentes de ontem. Jovens que precisam conviver no seu cotidiano com a banalização dos segredos íntimos, bulying, preconceitos sobre as opções sexuais, descoberta dos próprios sentimentos e a necessidade de encontrar o seu próprio "eu" no meio deste turbilhão de emoções.
É muito interessante quando o personagem principal diz que não teria preconceito de nada se acontecesse a mesma situação com outra pessoa, o problema é que a situação é com ele.
Quando não estamos sendo alvos de uma situação constrangedora podemos dizer elegantemente que somos liberais, sem preconceitos. Tudo isso faz com que precisemos refletir sobre as nossas condutas morais e comportamentais.
Mas "a melhor coisa do mundo" é a constatação de que todos somos iguais, com as mesmas fragilidades, emoções, e ainda, o melhor é constatarmos que ninguém é melhor do que ninguém e que sempre precisamos um do outro. O mais importante é a compreensão e o amor sem julgamentos.
Os jovens atores que, sob a direção maravilhosa da Laís Bodanzky, dão o recado com as suas ótimas atuações nos alegra prometendo o futuro cada vez melhor ao filme nacional.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feliz Dia dos Professores! - Feliz Dia dos Médicos!

Vivemos as nossas vidas amparadas por várias e caras pessoas.
Estamos aqui  bem vivos, saudáveis, criando e produzindo graças ao amor e dedicação de um número incalculável de pessoas!
Inicialmente duas pessoas foram responsáveis para nos trazer ao mundo. Nossos pais nos geraram, nos amaram, nos criaram e educaram com a ajuda de uma infinidade de pessoas.
Nascemos e vivemos no mundo em que, de tão maravilhoso,  ninguém quer partir. Por que sentimos este mundo tão maravilhoso? Por que temos tanto apego à vida?
A minha resposta seria : "Porque é nela que existe o que há de mais encantador e de mais sedutor!"
A beleza! A beleza da natureza, da arte, do ser humano, da amizade, da doação, da generosidade, do amar e ser amado. Enfim, tudo que se frutifica a partir do encontro de pessoas, de animais e da natureza.
Por tudo isso adoramos estar vivos neste mundo!
Passado o Dia das Crianças nos deparamos com o Dia do Professor (Dia 15/10)e em seguida com o Dia do Médico(Dia 18/10).
Seria quase impossível enumerarmos a enorme quantidade de professores que nos ajudaram na construção da nossa formação cultural, intelectual e até pessoal. Alguns professores mais especiais guardamos para sempre na nossa memória, com muito carinho.
A minha primeira professora, do primeiro ano primário,( não cursei o pré-primário) foi uma pessoa inesquecívelmente especial, tamanho era o seu carinho, dedicação e amor pelos alunos. Lembro-me perfeitamente até do seu perfume, da sua elegância clássica e discreta, do seu sorriso amoroso e guardo comigo no meu álbum de recordações as suas belas letras escritas com uma caneta tinteiro onde me dedica uma poesia infantil muito graciosa. Penso que fui muito feliz ao ser acolhida na primeira escola da minha vida por uma pessoa tão cheia de amor e carinho.
Sinto que conhecer pessoas maravilhosas na infância pode ser determinate para a nossa formação assim como o contrário, a infelicidade de cruzarmos pelo nosso caminho pessoas amargas podem nos deixar rastros de amargura também. Nunca ganhei nenhum prêmio na loteria, mas para compensar-me Deus sempre cercou-me de pessoas muito especiais que cuidam,  ensinam e dedicam muito amor e amizade por mim.

Estamos a alguns dias do Dia do Médico. No decorrer da minha vida desde a minha infância passei por alguns sustos em matéria de saúde, todavia sempre tive a providência divina a meu favor me fazendo ir ao encontro de médicos competentes e principalmente muito humanos. A cada encontro com eles aprendo a admirá-los profundamente e sinto no coração o significado das palavras dedicação humana e amor ao próximo.
Pessoas que se dedicam em cuidar do próximo, muitas vezes sacrificando sua juventude, suas vidas com o único objetivo de salvar e recuperar as nossas.
Graças a estas pessoas estamos aqui vivas, fortes e saudáveis para aproveitar cada dia, cada segundo de tudo que nos seduz!
Feliz Dia do Professor!
Feliz Dia do Médico!
Muito obrigada!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Feliz Dia de Todos Nós!

Feliz Dia das Crianças! ...A nossa criança interna e eterna!
Tomo a liberdade de iniciar esta postagem com esta frase gentilmente enviada por um anônimo como um comentário referente à minha postagem anterior "Preencher a vida".
Hoje é Dia das Crianças!
Crianças, seres puros e límpidos como a água, inocentes e também tão sábios!
Sábios, pois sabem viver, são felizes pois são livres de preconceitos, hipocrisias, falsidades e manipulações. Vivem aproveitando cada segundo do dia, tudo que a vida, a natureza nos presenteia de mais maravilhoso. Sabem contemplar uma formiga que se esconde entre as folhas do jardim, percebem as flores que desabrocham, o desenho que a nuvem pinta sobre o céu, a música que a chuva compõe ao cair sobre o telhado. Sorriem com a careta, sorriem com o "pum", sorriem com tudo que faz barulho e que os adultos
enrugam suas testas.
Quando estou com elas sinto como é fácil ser feliz, como é simples viver!
Por que complicamos tanto a vida? Em qual manual estaria escrito que para ser adulto temos que ser sérios,
sempre ocupados, ler livros difíceis e pesados, não gostar de guloseimas, não chorar por qualquer coisa, saber suportar e não dar trabalhos para os outros?
Já fomos crianças e sabemos como é divino ser criança!
É como andar de bicicleta,  jamais esqueceremos.
Evidentemente que não voltaremos a usar babador e fraldas, nem bateremos as pernas no chão quando queremos algo, mas por que não recuperarmos ou acordarmos um pouco da criança que um dia fomos?
Aquela criança que empacotamos e guardamos no porão da nossa vida e que está ávida para ser lembrada.
A criança que sorria muito, que conversava com todos, que tinha a curiosidade acentuada,  que acreditava
na vida,  na magia, na fantasia, nas pessoas, não via problema em se sentar no chão, em se sujar com a terra, cantar alto, enfim, ser livre e feliz a cada sopro de vida!
Feliz Dia de Todos Nós, crianças que fomos e sempre seremos!

domingo, 10 de outubro de 2010

Preencher a Vida.

Um grande papel alvo.
De tão alvo me assusta e me desafia.
O que vou desenhar?
Com quais cores vou preenchê-lo?
Puxando o fio da meada da vida lembrei-me que quando criança, nada disso me assustava, pelo contrário, quanto mais branco, quanto mais espaço eu tivesse para preenchê-lo com desenhos me animava.
Seria o descomprometimento com o resultado,  a falta de responsabilidade sobre a arte final?
Nesta manhã um tanto cinza, um tanto fria, diante do papel branco me encarando resolvi fazer uma
volta ao meu passado.
Me ví deitada no chão, de bruços, sobre o chão de tacos pequenos, alguns soltos que me incomodavam na barriga. Nada disso importava, a mesa era pequena demais para desenhar. A minha blusa que ficava suja nos cotovelos e na barriga em contato com o chão não importava, eu só queria desenhar.
Desenhar simplesmente! Simplesmente me fazer feliz.
O que me instigava era a certeza de que eu poderia construir o meu mundo de faz de conta com as minhas próprias mãos, apenas com a ajuda do lápis e papel. Um mundo só meu, onde seria tudo que eu quisesse!
Eu era a princesa, era bonita, era boazinha, era alta, magra, rica e um principe a me cortejar.
Enquanto ia desenhando também ia falando alto as falas de cada personagem, precisava me desdobrar!
Empostar a voz nas falas do príncipe, afinar a voz nas falas da princesa e assim meu dia acabava rapidinho
juntamente com os papéis e os lápis. O papel era um grande problema. Numa época em que não tínhamos condições de comprar sulfites muito menos cadernos de desenhos que não fossem para serem usados na escola. Mas existiam os papéis de embrulhos que eram acirradamente disputados entre mim e minha irmã.
Todos os papéis que entravam na casa eram desamassados e divididos igualmente para as duas, milímetro por milímetro. E assim éramos  plenas e felizes! Hoje contemplo com alegria meus sobrinhos empilhando cadernos e cadernos de desenhos com as folhas preenchidas com arte, liberdade e criatividade.
E com que perfeição, dedicação representam o mundo real e o imaginários deles! Parece que nasceram outro dia mas sabem representar perfeitamente, através dos desenhos, a vida que imaginam, sentem e vêem.
Desenhar, preencher um papel alvo e intocável é como viver, pensei.
Quando crianças nada tememos, se errarmos, fazemos de novo ou não erramos pois não tememos.
Crianças sabem viver, sabem aproveitar cada minuto do dia e sabem amar a vida com maestria.
E elas nos ensinam muito. Ensinam que mesmo adultos não podemos jamais esquecer a pura alma infantil, o olhar curioso sobre a vida, simplesmente fazer porque amamos e amarmos o que fazemos. 
Pensar em tudo isso me deixou cheia de disposição para encarar o meu papel branco e continuar a preenchê-lo, assim como a vida, com amor e dedicação. 

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

AEILIJ - Paulista "Vice-Versa"

Este mês tive o prazer de participar do "Vice-Versa" de Outubro/2010 da AEILIJ-Paulista- Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil do Estado de São Paulo,
 a convite da escritora Regina Sormani onde sou entrevistada pelo escritor, poeta e editor Marco Haurélio Fernandes e tive o prazer de entrevistá-lo também.
Covido a todos a conhecerem este escritor dedicado também à Literatura de Cordel.
Blog do Marco Haurélio : http://www.marcohaurelio.blogspot.com/

domingo, 26 de setembro de 2010

Guarda-chuva.

Meu guarda-chuva chamava atenção.
Curiosamente sempre que o carregava comigo alguém fazia questão de tecer comentários sobre ele.
- Nossa!  Que guarda-chuva bonito, elegante!
Era bonito sim, mas não estonteantemente bonito, sua cor pairava entre magenta e coral, poucas listas horizontais em marrom e creme completavam a sua estampa. Discreto, o cabinho (não sei qual é exatamente o nome desta parte do guarda-chuva) onde se segura era de madeira clarinha e o seu tecido de ótima qualidade, levemente acetinado de origem japonesa.
Para mim, mais do que a sua beleza, tinha uma lembrança afetiva. Eu havia presenteado à minha mãe e ela
o guardava com muito carinho. Acamada por tantos anos ela não tinha oportunidade de usá-lo, mas de tempos em tempos tirava da sua gaveta para contemplá-lo.
Um certo dia, não sei exatamente o que teria passado na sua cabeça, resolveu que iria me presentear o guarda-chuva. Aceitei pois compreendi que fazia com muito carinho. Depois que a minha mãe partiu, passaram-se anos até que eu tivesse a coragem de começar a utilizá-lo, transformar esta lembrança num utilitário.
Não, não era apenas um utilitário, quando o carregava comigo sentia que minha mãe me acompanhava. Mesmo assim, sempre me sentia vulnerável quando estava com ele como se um dia fosse perdê-lo. O que mais se perde, o que mais se esquece num dia chuvoso quando a chuva se vai? Guarda-chuvas. Então eu cuidava, me mantinha sempre alerta para que isto não ocorresse.
Todavia, não é possível estarmos atentos o tempo inteiro principalmente quando algo inesperado acontece na nossa rotina. É como se a vida fosse um vídeo game, precisamos estar ligadas, não devemos descuidar dos improvisos, das ciladas que testam a nossa atenção, a nossa distração. Fui pega! Nunca fui boa para jogos.
Era um dia normal, pouco cinzento, ameaçando chuva, porém o tempo fazia uma brincadeira de garoa, não garoa...
Querendo mostrar precaução já estava preparada com a minha proteção contra qualquer possibilidade de me molhar. Guarda-chuva firme e seguro sobre o braço caminhava sem nada pensar...até que... de repente lembrei-me que havia esquecido as chaves da sala para onde me dirigia! Não percebi, porém ali já seria o início do jogo. Quem iria ganhar o teste da atenção? A minha cabeça foi preenchida pela necessidade de resolver tal situação, afinal como entraria na sala? Teria alunos me aguardando. Hummm..., sou esperta, a dona da sala  que mora a alguns quarteirões dali poderia me ajudar. Passaria lá para pegar as chaves emprestada. Telefonaria do meu telefone celular para avisá-la. Tomada pela situação o guarda-chuva sobre o braço ficara em segundo plano e enquanto eu telefonava distraída, ele resolveu me deixar, ficar por algum canto da rua sem que eu nada percebesse. Já muito longe, após caminhar por vários quarteirões notei a sua ausência. Entrei em pânico!
-Não! Cadê o meu guarda-chuva?!
Mesmo estando atrasada voltei correndo todo o meu trajeto, procurei por cada esquina, cada jardim, cada buraco das calçadas, perguntei aos transeuntes, aos porteiros dos prédios! Nada... não havia nem sombra dele... Alguém já deveria ter-se intitulado seu dono. Até hoje ao andar por esta rua tenho a sensação que ele estará lá em algum canto me esperando ou que alguém virá gentilmente me devolver. Por muitos dias fiquei pensando o que eu deveria aprender com este episódio, desapego às coisas materiais, falta de atenção...
Mas, afinal o que eu esperava dele, qual seria a minha expectativa ao tê-lo comigo? Garantia de uma lembrança emocional, um objeto que me proporcionaria uma fantástica viagem ao passado onde eu pudesse rever os momentos felizes? Não cheguei a nenhuma conclusão, contudo a única certeza é que mesmo sem o guarda-chuva  perto de mim continuo me recordando perfeitamente do carinho da minha mãe, do seu sorriso ao  presentear-me com ele e do quanto ela me amava.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Equilíbrio.

Asfaltos e terras já caminhei por quilômetros,  pratos e pratos de arroz com feijão já vitaminaram meu corpo, uma infinidade de livros, cadernos e lápis enriqueceram minha mente, entretanto apenas recentemente comecei a perceber o mais simples e o óbvio das nossas buscas.
Uma palavra que esteve sempre perto de nós, palavra até comum, porém traz no seu conteúdo o quase impraticável.
Que atire a primeira pedra quem diga que é fácil praticá-lo.

"Equilíbrio"

De uma maneira moderada todos somos capazes de exercê-lo. Há quem diga que o excesso dele torna tudo sem graça, sem prazer e sem paixão. Ora, até mesmo praticá-lo faz-se necessário equilibrar-se.
Muitos fazem deste tema uma profissão tentando ensinar a colocar em prática o equilíbrio na vida das pessoas ministrando cursos de Yoga, Zen Budismo, Florais e tantos outros conhecimentos a favor do "equilíbrio" emocional, mental e corporal.  Livros e mais livros sobre o tema aguardam seus leitores nas vitrines das livrarias. Cursos e mais cursos abrem suas portas em busca de candidatos interessados em assimilar tais conhecimentos. Enganam-se aqueles que imaginam conseguir tal façanha quando finda a leitura ou o curso. Se todos os habitantes deste planeta fossem mestres em equilíbrio após a leitura de um livro ou com o certificado nas mãos não teríamos guerras, obesos, consumistas, work-a-holic, chocólatras e uma lista de desequilíbrios que assola a nossa vida.
É uma eterna busca, vigília, dedicação e perseverança sem folga nem férias.
Nunca gritei em público, nunca batí em ninguém, nunca atirei um vaso em ninguém como se faz em filmes, mas com certeza estou longe de ser um exemplo de moderação. Prova disto é que desde que me conheço por gente estou de dieta, falo alto, dou gargalhada barulhenta, quando estou trabalhando meu atelier fica intransitável com copos e xícaras de café, e chá por todos os lados, não posso entrar em livrarias que o meu consumismo se agita e... é bom parar por aqui.
Como fazer uma fisionomia elegante diante de um pudim suculento e dizer:
- Não, obrigada.
Como entrar numa livraria que é um jardim florido de tentações sem fazer estrago na sua conta bancária?
Como não se descabelar e gritar diante de um inseto prestes a pular sobre nós?
Como não gargalhar de boca aberta expondo as obturações dos dentes diante de uma boa piada?
Conheço pessoas razoávelmente equilibradas que não se abalam, não choram, não se assustam, não falam alto, são organizadas, econômicas, comem frugalmente, recusam sobremesa, estão sempre alinhadas sem um fio de cabelo fora do lugar. Estas pessoas vão se tornando meus ídolos. São pessoas que alcançaram o que não é possível para mim ainda. Ídolos,  significam seres inatingíveis, distantes, contudo à medida que vou me aprofundando na amizade acabo descobrindo que sempre existe algum caminho do subterfúgio, uma gastrite,
uma dor na coluna ou uma compulsão bem guardada e então respiro aliviada. Somos todos humanos com fraquezas, limitações e carências, do contrário não estaríamos aqui na terra.
A vida é uma eterna busca, uma humilde tentativa, um longo aprendizado. Cada vela sobre o bolo que vou assoprando sinto que vou me acalmando um tantinho,  vou perdendo um pouquinho da compulsão, tentando chegar ao equilíbrio.
Quem sabe daqui a cem anos andarei de monociclo sobre uma ponte suspensa.




sexta-feira, 10 de setembro de 2010

De mãos dadas.

De mãos dadas, tudo é possível.
De mãos dadas, caminhamos sorrindo .
De mãos dadas, não há solidão .

Meu pai registrou esta cena com a sua  lente, acredito, numa atitude de muito amor e carinho pelas filhas. Foi numa época em que eu ainda era mais baixinha do que a minha irmã,
numa época em que se caminhava muito, numa época em que nós nos arrumávamos com o vestido novo, sapato novo e com casaquinho na mão íamos visitar nossos avós, aos domingos.
Através dos meus passos apressados observa-se que já estávamos muito perto de chegar ao nosso destino .
Logo chegaria o momento de encontrar minha avó que enrugaria o seu rosto e com o seu sorriso apertado nos receberia sempre com a mesma frase.
- Que bom que vocês chegaram!
Dita em língua japonesa, acompanhada de muita alegria. Era tudo que precisávamos ouvir para ter a certeza de que estávamos sendo recebidas em um território amigo de muito amor.
Meus tios, ainda todos solteiros, nos esperavam  para passar o domingo conosco. Um dia inteiro de muita conversa, brincadeira e comilança .
Hoje esta rua residencial  é repleta de casas valorizadas, apenas a casa  dos meus avó resiste do mesmo jeito como semper foi. Minha mãe, meus avós, e alguns tios já partiram, mas todas as vezes ao entrar na casa dos meus avós, todas as gargalhadas dadas, as festas, o cheiro de comida da minha avó imediatamente
retornam à minha mente e ao meu coração. Sou envolvida por uma sensação que se resume em uma única palavra. "Amor". Não me lembro de ter falado nem de ter ouvido
" Eu te amo".  Não era necessário, o sabor inesquecível do arroz com feijão, bife com batatas preparadas pela minha avó, o chocolate em forma de carrinho que meu avô nos presenteava, o enorme sorriso dos meus avós que expressavam a imensa alegria ao nos receber era muito mais do que uma declaração de amor. Os meus tios que não saíam  de casa aos domingos e passavam o dia conosco era o mesmo que dizer:
-  Preferimos ficar com vocês, passar o domingo com vocês por que nós amamos vocês.
Da nossa parte, voltarmos lá  a cada domingo, mesmo caminhando muito, era a nossa declaração de amor.
Hoje, mesmo sem  tê-los perto de nós, as lembranças do sorriso, da amizade e do amor são coisas que jamais se apagarão dos nossos corações. Enquanto estivermos munidas e fortalecidas com o estoque de combustível chamado "Amor" que nos foi dedicado por todas estas pessoas, sempre teremos força e coragem para escalar todas as ladeiras das nossas vidas, mas ...

Quero sempre uma mão para segurar.
Quero sempre um sorriso para me acalmar.
Quero sempre um amor para amar e ser amada.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Resta em mim...


O livro de cabeceira,  não, os livros de todos os ambientes que a cada leitura me fascina, me emociona e pretensiosamente me causa uma enorme vontade de ter sido a sua autora, têm em todas as capas um conjunto de letras que se formam "Rubem Alves".
Numa das suas crônicas "Morangos à beira do abismo" ele se inspira em um dos poemas de Vinicius de Moraes, " O haver" onde segundo Rubem, o inventário do que sobrou no crepúsculo da vida é o principal tema.(Do livro Desfiz 75 anos - Rubem Alves - Editora Papirus)
Rubem, o grande artista, mágico das palavras e emoções, escreve na sua maravilhosa crônica que embora não seja o Vinícius e nada saiba sobre métrica e rimas ficara com vontade de fazer algo parecido começando os parágrafos com a palavra "Resta...". E assim ele faz desta crônica um "sacudir de emoções". E eu que nada sou, nem poetisa muito menos escritora e acreditar que ainda não estou no crepúsculo da minha vida,  fiquei instigada a tentar fazer este balanço. Olhando para trás, para os caminhos percorridos o que ainda restaria dentro de mim e na minha mala de viagem que carinhosamente carrego pela estrada da minha vida?
Combinei comigo que seria uma única mala, o que fosse o imprescindível.
Resta em mim, em primeiro lugar a grande vontade de saber, de aprender, de ouvir o outro, a curiosidade de adentrar no mundo que não conheço.
Resta em mim o profundo respeito e a admiração que sinto pelas pessoas que vou conhecendo pelas estradas que optei e as que fui contemplada.
Resta em mim uma enorme gratidão para tantas coisas que a natureza me fornece, o sol, a chuva, o vento, a água, os alimentos, o mar, o rio, o sorriso das crianças, os pássaros e animais. Gratidão sem fim ao meu "Pai Eterno" que tenho certeza, está sempre ao meu lado e muitas vezes me toma no seu colo.
Resta em mim a vontade de reaprender a viver a partir de tudo que aprendi até hoje.
Resta em mim as recordações fotográficamente registradas em minha memória, momentos felizes que passei com as pessoas que já partiram e com as pessoas que estão firmes ao meu lado.
Resta em mim a força e a garra de subir ladeiras e vencer obstáculos da vida.
Resta em mim a vontade de ensinar, passar adiante o pouco que sei, prolongar a corrente da vida.
Resta em mim um amor profundo, muito carinho e admiração pela única pessoa que me vê sem maquiagem, envolve as minhas mãos com as suas e me abraça com o seu sorriso.
Resta em mim a felicidade de sentir gratidão pela família que possuo, pelos meus queridos médicos que zelam pela minha vida, pelos meus amigos verdadeiros, todos que tornam a minha vida rica e consistente.
Resta em mim o "acreditar" nas pessoas,  e em mim.
Resta em mim a alegria e a satisfação que sinto a cada manhã que desperto, dou "bom dia", rego minhas plantas, tomo o meu café, ligo o meu som, preparo meus grafites e minhas tintas para desenhar e  ligo o meu computador para "Escrever"!

domingo, 29 de agosto de 2010

Frase, aroma e lembranças.

"Vamos buscar o significado de ter nascido e a alegria de viver".
Em meio ao forte aroma de incenso e o ritual do jovem monge dentro do templo budista, não consegui desviar meu olhar desta frase estampado na parede lateral. Na outra parede a mesma frase escrita em língua japonesa.
Onde estaria o mapa do tesouro?
Imaginei um baú antigo de tesouro e dentro um velho pergaminho com o mapa que nos levaria ao lugar
onde estaria enterrado um livro com o nome de cada ser humano indicando o real motivo individual de termos nascido.
Estávamos reunidos em memória do meu tio que partira há um ano atrás após muito sofrimento.
Fechei os olhos e me recordei dos melhores momentos que passamos juntos na minha infância.
Todas as tardes de domingo ele vinha nos visitar e assistíamos ao programa "Jovem Guarda" na televisão, comandado pelo trio Roberto Carlos, Erasmos Carlos e Vanderléia. Éramos crianças mas o que eu adorava era este programa dominical com lanche, refrigerante e música juntamente com meus tios.
Os carnavais que ele nos levava de "fusca" para ver o movimento da cidade e o gosto do "bijú" que ele nos comprava nos faróis. Tempos que não havia perigo trafegar com a janela do carro aberta e ainda comprar doces no intervalo dos faróis da cidade. Ontem encontrei bijú numa loja de doces e saudosa comprei, ao degustá-lo sentí que não era o mesmo gosto daquele que meu tio me presenteara no farol.
Aquele tinha o gosto da surpresa, da descoberta, até mesmo de uma transgressão pois meus pais nunca compravam nada na rua e eu nunca havia provado um bijú. Bijú vendido por um moço que fazia barulho com um instrumento de madeira para chamar a atenção dos compradores, anunciando a sua passagem pelas ruas e avenidas.
Quando fiquei gravemente doente na minha infância, meu tio muito nos ajudou, era uma presença constante e sempre fui muito grata pela sua existência na minha infância. Assim ele fez para muitas pessoas, aos amigos, aos meus avós, à tantas pessoas...
Hoje, durante a missa só conseguia me lembrar do seu rosto sorridente e satisfeito ao ver a família reunida e do seu cheiro de cigarro.
Voltei à frase da parede, com certeza ele foi uma pessoa muito necessária para muitas pessoas, uma pessoa com um grande significado da sua existência.
Eu sentí que ainda precisaria percorrer muitos caminhos para encontrar o meu livro, o significado do meu nascimento neste mundo, pois alegria é que não falta neste mundo, basta olharmos para o sorriso das crianças ao nosso redor, para os pássaros que nos acordam com seus cantos nas manhãs, mesmo morando numa grande metrópole!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Medo

"Sempre tive medo, apenas nunca deixei de enfrentar".
Há muitos anos lí esta frase. Não me recordo com exatidão se foram estas as palavras, mas o conteúdo de uma resposta dada a uma repórter pela escritora Lya Luft  foi esta.
Admiro-a muito, pela sua forma de escrever, pelo seu talento de contemplar a vida e pela coragem de se mostrar, expondo o que se passa no seu âmago, através das palavras.
A frase me tocou bastante pois embora numa escala bem menor encontrei uma certa semelhança com o meu modo de viver.
Muitas vezes já ouvi os seguintes comentários:
- Nossa! Naomy, você está sendo corajosa!
ou
- Puxa! Você é muito forte!
Quando ouço isto acho interessante como conseguimos enganar tão bem o que na realidade somos por dentro.
A intensa fragilidade procuramos esconder através do enfrentamento.
Desde a minha infância sempre fui muito medrosa, daquelas que tem medo da própria sombra.
Medo do escuro, medo de sofrer, medo da dor, medo da perda, medo da ausência, medo de uma infinidade de coisas que a cada passo tenho tentado driblar. Não tenho medo de fantasmas, assombrações, tenho medo é da realidade que nos cerca, nos testa e não tem piedade.
Demorei muito a entender que o fato de ter medo não é uma prevenção nem nos torna imunes a sofrimentos e perdas e muito menos nos permite pular etapas.
Quando adolescente soube que eu deveria passar por uma pequena cirurgia. Embora uma microcirurgia, eu era uma mocinha que nunca havia passado por isto, fiquei com muito medo. Marquei para dois dias depois.
O médico admirado disse:
- Olha, não é tão frequente uma paciente que se mostra tão decidida e determinada. Você é muito corajosa!
Eu apenas sorri, mas ele estava totalmente equivocado. Eu estava com tanto medo, tanto medo que achei melhor passar por isto o mais depressa possível pois não iria agüentar ficar semanas pensando sobre a cirurgia. Se fosse possível faria naquele instante.
Houve uma época em que tive muito medo de perder a minha mãe. Quando criança pensava ser impossível sobreviver a uma vida sem a minha mãe. Mesmo já adulta, em muitas internações hospitalares pelo qual minha mãe passou nos ultimos anos de sua vida, meu coração ficava a ponto de explodir. O médico dela se preocupava comigo, me alertava sempre para me preparar, ser forte. Tentei me prevenir, exercitava a perda para tentar amenizar o sofrimento quando chegasse o momento. Nada disso funcionou, não me imunizou, tive que enfrentar passo a passo o ritual da perda com muito sofrimento, mas com os olhos bem abertos e com as pernas firmes sobre o chão.
Concluí que de nada adianta sofrer por antecedência, tentando se acostumar com a perda.
No momento exato a dor e o sofrimento é singular.
Para esta cena não há ensaios.
O medo é um fatasma que nos castiga antecipadamente sobre uma realidade que está por vir que ainda não chegou, que pode ser feia ou não tão feia ou nada feia.
Toda essa vivência tem servido para me ensinar que embora não seja fácil deixar de sentir medo, não vale a pena sofrer por antecipação, criar fantasmas imaginando o tamanho e a feiúra do "Lobo Mau" que virá nos assustar.
Afinal, o Lobo pode não ser tão mau assim e nós também poderemos não ser tão ingênuas quanto a "Chapéuzinho Vermelho".
Poderemos mudar o rumo da história, pintarmos a Chapéuzinho de outra cor e criarmos uma outra história para nossas vidas!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meu Pai.

Pai.
Sei que o senhor não irá ler esta página.
Não tem computador nem é dado a ler textos em português.
Dia sim, dia não, almoçamos juntos, falamos de quase tudo, mas ainda tenho o "quase" guardado dentro de mim. Não sou uma pessoa que tem problemas em falar dos próprios sentimentos, mas nunca cheguei a me desnudar diante dos meus pais no que diz respeito ao meu amor por eles. Respeito? Timidez? Vergonha?Talvez pelo receio de me sensibilizar excessivamente e também pela sensação da desnecessidade de verbalizar o óbvio.
Sempre fui a "filhinha da mamãe". Tenho uma fotografia que me registra em desespero nos braços do meu pai, pois o que eu queria era ir atrás da minha mãe. Onde minha mãe estivesse eu tinha que sair correndo atrás dela. Entre tantos acontecimentos destacam-se alguns mais graves. Quando eu tinha cinco anos era especialmente grudada à minha mãe, ficava o dia todo colada a ela. Um certo dia eu estava resfriada, ela iria lavar o quintal, queria que eu ficasse dentro de casa para não me molhar. Me achando muito esperta fingi obedecer, mas quando ela me deu as costas, saiu para o quintal e bateu a porta tentei segurar a porta pelo lado que tem as dobradiças e é claro que com as mãos de uma criança de cinco anos não consegui impedir que a porta se fechasse e lá se foi meu dedo entre o batente e a porta. Minha mãe me ouvindo gritar, abriu a porta, viu o meu dedo mindinho amassado e sangrando. "POEIM!" caiu desmaiada no chão. Meu pai, cujo estúdio de trabalho era na própria residência, veio correndo e ao ver aquela cena  empalideceu e com o semblante muito sério me colocou numa cadeira, correu para carregar a minha mãe até a cama, me pegou em seus braços e correu até o Pronto Socorro. Soluçando, alternei meu olhar entre o rosto muito sério do meu pai e do médico. Com muito medo observei a costura sendo feita no meu dedo como se costura um tecido. Cada vez que vejo meu dedo mindinho torto com a cicatriz da costura  reconheço que dei bastante trabalho aos meus pais. Tinha muito medo do meu pai na infância, quando ele falava bravo era definitivo e não havia outra opção senão obedecê-lo. Ele trabalhava noite e dia sem descanso nem férias, para ele não havia nem sábado nem domingo. Nas caminhadas que fazíamos ao cair da tarde, ele me contava que havia saido sózinho da Colônia Ribeirão dos Índios aos dezessete anos. Morou numa pensão na cidade de Marília, trabalhou como aprendiz de fotógrafo. Após seus vinte anos resolveu ser aprendiz de fotógrafo em um estúdio de São Paulo. Cursava o ginasial no período noturno, mas as repetidas horas extras que era obrigado a fazer atrapalhava-o nos estudos. Um certo dia decidira que iria se dedicar exclusivamente ao trabalho para se estabelecer, casaria com uma boa mulher, teria filhos e os faria se formarem. Trabalhou duro até conseguir ter o seu próprio estúdio e então conheceu minha mãe quando ela apareceu como uma cliente em seu estúdio. Foi amor à primeira vista, ou melhor, ele conta que foi certeza a primeira vista. Encontrara a mulher da sua vida!  Estas caminhadas vespertinas nos aproximava, eu jamais esqueci do delicioso sabor do pastel e guaraná gelado que meu pai me presenteava no caminho de volta, um segredo nosso antes do jantar. 
Mesmo sendo amigos tínhamos as nossas diferenças. Eu nunca fui uma criança fácil, nada sabia mas tinha opinião para tudo. Até mesmo a disciplina radical do meu pai, a dedicação excessiva ao trabalho me fazia revoltar. Eventos da escola e festas ele nunca participava pois estava sempre trabalhando para cumprir prazos de entrega de fotografias aos seus clientes.
Ele apenas nos levava aos locais dos eventos, então, nas festas éramos sempre uma família de mãe e filhos. Sempre respondíamos, sem graça, às perguntas das pessoas:
- E papai, não veio?
- Ele está trabalhando.
E logo vinha a outra pergunta :
- No domingo?
Recordo-me que sempre brigava com meu pai ao descer do carro e um dia muito revoltada gritei bem alto:
- É sempre a mesma coisa, o senhor nunca participa de nada! Só pensa em trabalhar!
No banco do motorista ele nada falou me olhou simplesmente, mas nunca me esquecí do seu semblante triste. Hoje consigo perceber como deve ter sido difícil ouvir estas palavras minhas, uma criança que ainda não compreendia o tamanho do esforço necessário para sózinho sustentar uma família. Tive os meus momentos de adolescente revoltada com o pai. Tinha grandes e acirradas discussões com ele sobre vários assuntos, política, romance, cinema, qualquer tema virava uma polêmica entre nós. Mesmo falando a mesma coisa discutíamos como se tivéssemos opiniões completamente divergentes. Meus irmãos nunca foram assim, mesmo quando não concordavam com a opinião dele sabiam a hora de parar. Eu brigava, não aceitava as opiniões dele e nem ele as minhas. Contudo quando ele falava era muito difícil superá-lo em argumentações.
Ano passado, viajamos para um campeonato de "Taikô"( Grande tambor - Percussão japonês) que meus sobrinhos iriam participar. O evento aconteceu na cidade de Marília, cidade onde meu pai havia morado aos seus vinte anos quando ainda era aprendiz de fotógrafo. Ele que detesta viagens resolveu nos acompanhar para torcer pelos netos e também para rever a cidade após mais de sessenta anos. Ficamos todos num hotel da cidade, eu e meu pai dividimos o quarto.  Na madrugada, ao vê-lo deitado na cama ao lado, dormindo, meu coração se apertou.  Parecia tão frágil e tão diferente daquele homem que eu ia de encontro com as minhas revoltas, minhas palavras agressivas, pois enxergava-o como um muro forte e irredutível que eu podia ir de encontro sem reservas que jamais iria se desmoronar. Ele sempre foi uma espécie de muro para mim. Um muro que me limitava mas também o muro que me protegia e tudo resolvia. Quando fiquei sériamente doente aos seis anos, quando tirei minha carta de motorista, quando eu bati o carro, quando me casei, em todos os momentos esteve sempre ao meu lado para tudo resolver. Um homem que sempre viveu em função da família, que com a ajuda da minha mãe conseguiu criar e formar seus filhos como ele planejara.
Quando ficou viúvo sofreu muito, o quanto, penso que nunca poderemos imaginar, tamanho era o seu amor pela minha mãe, mas se manteve firme, não queria nos dar preocupação. Até hoje, após cinco anos que minha mãe partira, tudo que o faz recordá-la, enche seus olhos de lágrimas.
Aos oitenta e tantos anos de idade iniciou-se no mundo da escrita em língua japonesa, publica seus textos com uma certa regularidade num jornal da colônia japonesa e tem surpreendido a todos com a qualidade e um conteúdo bastante sensível e romântico, onde minha mãe é a sua principal inspiração.
Pai, sou muito grata a você, respeito-o e admiro-o muito.
Sei que nunca conseguirei ser forte, guerreira e disciplinada tanto quanto ao senhor, muito menos superá-lo.
Pai, adotei uma atitude de palhaça e brava com o senhor pois não quero vê-lo frágil.
Sei que hoje é chegada a nossa vez de ser o seu muro, mas ainda estou condicionada a vê-lo como sendo o nosso muro forte que nos protege e nos ampara.
Pai, nunca te disse em palavras, mas em atitude, de sobra.
Pai, eu te amo.
Feliz Dia dos Pais!

domingo, 1 de agosto de 2010

Minha plantação.

Já falei anteriormente sobre o complexo que sinto da minha ignorância botânica (postagem do dia 12/05/10)e também da minha tentativa de aprendizagem. Tenho um imenso prazer em contar que tenho evoluido, embora a passos de tartaruga. No prédio onde resido, reparei que um morador do térreo plantara cebolinhas num vaso e de tão lindas me causavam  muita inveja(boa, como muitos dizem, se é que isto existe). Eram vistosas, sadias e  chamavam muita atenção. Um certo dia ao encontrar com o moço, dono das cebolinhas, elogiei sua plantação e ele muito satisfeito, gentilmente, me respondeu:
- Quando você quiser esteja à vontade para colhê-las!
Agradeci, mas não teria cabimento deixar a plantação do moço  à mingua. Resolvi imitá-lo.
Comprei um montão de maços de cebolinha e à medida que ia consumindo, plantava a raiz num vaso, na minha varanda. Rápidamente ela se desenvolveu e o meu vaso também se encheu de cebolinhas vistosas e apetitosas. Cada prato que preparo, lá vou eu eufórica para a minha varanda buscar as cebolinhas com carinho e respeito.  E eles dão o toque final delicioso aos meus quitutes. A raíz da cebolinha permanece no vaso, então novamente ela se desenvolve e assim nunca mais faltaram cebolinhas na minha cozinha. Com o sucesso, a minha gula pensou mais longe e resolvi que precisava de salsinhas também. Salsinhas não se vendem com as raízes, portanto fui à procura de sementes de salsinhas, porém encontrei apenas de coentros.
Coentro era uma erva que eu não possuía intimidade. Lembrei que a minha aluna Darcy, uma senhora de 76 anos muito bem vividos, (também já postei a respeito dela no dia 17/04/10) havia comentado que a erva que melhor harmonizava com o feijão era o coentro. Até então, todas as vezes que ia ao supermercado à procura de salsinha e encontrava apenas maços de coentro, olhava  torto para eles, arrancava uma folhinha, cheirava e em pensamento  murmurava:
-Só tem você, hoje! Que bela droga, embora tenha um design das folhas semelhante à salsinha, você não me apetece. De que me serve você com este seu aroma estranho?
Porém, após ouvir o comentário da minha aluna resolvi dar uma chance ao coentro. Iria criar coentros meus para provar com o feijão. Todos os dias eu ia lá no vaso e tinha o prazer de acompanhar cada vez que as mudinhas venciam a terra e achavam o caminho da luz. Demoraram um mês ou mais para atingirem o seu ponto ideal para serem colhidos. Ficaram bonitos e saudáveis. Preparei o meu feijão preto, colhi orgulhosa os ramos do coentro e ao lavá-los o aroma que um dia achara estranho senti-o delicioso. Ao picá-lo me envolveu com um aroma de fundo refrescante semelhante ao de uma laranja. Acrescentei também as folhas de louro e o meu feijão ficou supimpa!
Pensei com os meus botões:
- Porque não pensara antes em ter uma plantação de ervas?
Cheguei à conclusão que houvera tempos em que eu não possuía tranquilidade suficiente para apreciar uma planta, muito menos regá-las, apenas corria contra o tempo fazendo não sei o quê.
Achei muito divertido e me senti muito feliz ao apreciar um tempero cultivado numa varanda, pelas minhas próprias mãos.
Mesmo sendo uma pessoa ansiosa, aprendi a aguardar e respeitar o tempo necessário da natureza. Experimentei o prazer de consumir alimentos que dediquei tempo e amor para cultivá-los e o melhor, ter a certeza da ausência de agrotóxicos.
Observei que talvez eu tenha conseguido alcançar uma modesta calmaria onde consigo dar valor a estas pequenas felicidades, tão simplórias mas tão verdadeiras e prazerosas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Banda Sinfônica do Estado de São Paulo

Sentada confortávelmente na quinta fileira do auditório do Centro Cultural FIESP/SESI - Ruth Cardoso, Av. Paulista - SP, numa quarta feira, ao meio dia, sentia uma certa culpa. O fato de estar alí, num dia de semana enquanto, lá fora, milhares de pessoas trabalhavam me incomodava, mas isso desapareceu rápidamente ao me ver cercada por centenas de pessoas felizes. Todos demonstravam um misto de euforia e contentamento pelo prazer que teriam dentro de alguns instantes. A certeza da felicidade garantida da próxima hora deixava-nos sorridentes. Aguardávamos o início de um concerto da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, dentro do programa "Música em Cena".  As poltronas laterais do auditório estavam preenchidas por crianças com fisionomias indígenas monitoradas por alguns adultos que imaginei serem professores. Os monitores pareciam muito felizes em poder proporcionar estes ricos momentos a estas crianças e não paravam de olhar para eles. Estamos no mês de férias escolares talvez isso explique a grande quantidade de crianças presentes na platéia. Embora comportados e educados demonstravam ansiedade em seus olhares. Quem sabe futuros e grandes músicos estariam sendo germinados naquele momento.
Para mim, imaginar todas estas coisas e degustar o prazer de contemplar a manifestação do público presente também faz parte da grande atração ao frequentar concertos e teatros. A Banda com a regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa  e com a interessantíssima e magnífica participação de Albert Khattar que nos contemplou com o som alegre e divertido de uma Tuba. O concerto faz parte da série "Pra Ver a Banda Tocar" e o maestro bastante comunicativo nos fez observar a relação som e sentimento, sons representando momentos da vida como a infância divertida, vida adulta mais agitada e o som contemplativo da terceira idade, culminando com o ápice da "Vida".
Teve também "uma canja" que permite ao público estudante de música e instrumento, subir ao palco e ter a experiência de tocar como integrante de uma banda.
Nada pesquisei ainda a respeito da relação emoção versus música que tenho dentro de mim. Porém, todas as vezes que se inicia um concerto sinto todas as minhas veias se agitarem, meu coração se acelera, aperta meu peito e não consigo impedir os meus olhos de se inundarem. Hoje, durante o concerto, refleti sobre a minha sensibilidade quanto ao som de uma música, principalmente quando se trata de uma obra fruto de um conjunto de dedicação humana, a união que resulta numa arte maravilhosa!
Desde a minha infância e até hoje, existem algumas músicas que não consigo ouví-las sem chorar. Uma música em especial que gosto de cantar em Vídeokê, que narra a vida de uma mãe, me impede de cantar sem desafiná-la, pois começo a soluçar e lágrimas viram cataratas. Mesmo me esforçando ao máximo para não acontecer, acabo chorando. As pessoas que me vêem assim acham muita graça pois não conseguem entender como consigo ter este comportamento mesmo cantando tal canção pela enésima vez.
Quando eu tinha os meus sete anos de idade subi ao palco para interpretar uma música japonesa vestida de kimono e tudo e me concentrando na letra, meus lábios começaram a tremer e desandei a chorar.
Ninguém entendeu nada. Foi um "mico"!
Música tem esta força, a "Arte" tem este poder de sensibilizar, de atingir a profundeza da nossa alma,
agitá-la, trazendo ao nosso coração todas as recordações belas, alegres ou tristes que temos guardadas dentro de nós. Lembranças que trazemos conosco desde o príncípio da nossa existência, intra uterina ou quem sabe até de outras vidas.
A apresentação da Sinfônica foi uma hora e meia de absoluto envolvimento e prazer.  Sentí muita gratidão a estes músicos maravilhosos que têm a capacidade, fruto de uma enorme dedicação, de nos presentear com a plenitude do amor à Arte.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Vida Sem Roteiro


Vida sem roteiro!
Estampada na tela do televisor, esta frase chamou minha atenção, na manhã de hoje.
Vida livre, sem planejamentos, cálculos, preocupações e medos. Uma vida trilhada sem lenço nem documento. Quase um hippie!
Ah! E por que não? Hoje com uma certa maturidade alcançada me sinto atraída por esta idéia, entretanto na idade estudantil pensava muito diferente. Decidi tomar um caminho que não me proporcionasse surpresas nem sustos, uma estrada iluminada sem grandes curvas nem labirintos. Sinto que, na realidade, quando jovens, não pensamos tão profundamente nas nossas escolhas. Muitas vezes apenas seguimos caminhos traçados influenciados pelas opiniões alheias. Admiro profundamente adolescentes que desde cedo conseguem visualizar e ter a certeza sobre  "o que querem ser na vida". Ou ainda, jovens que nascem em famílias de médicos, advogados que já têm seus destinos desenhados. Seguir a tradição familiar conscientemente, por opção própria, por convicção. Lembro-me que na Faculdade até sentia uma leve inveja de colegas que lá estudavam com a carreira garantida no seio de um negócio familiar. Mesmo assim não segui a profissão do meu pai. Meu pai, fotógrafo profissional, com o seu estúdio montado e clientela garantida, fazia com que  muitas pessoas imaginassem que algum dos seus filhos seguiria sua profissão, porém ele nunca nos direcionou a isto. Deixou-nos livres para a escolha de uma profissão. Após concluir a faculdade segui trabalhando no meu emprego com o teto seguro, fazendo da minha paixão pelo desenho apenas um hobby. Porém a sábia e generosa  "Vida" comandada pelo "Supremo" resolveu dar-me uma oportunidade de tornar a minha vida mais prazerosa embora sem garantias. A decisão não foi rápida nem fácil. Viver do desenho... Uma opção que muitos olham com interrogações, curiosidades, até com um certo interesse, contudo com desconfiança de que isso realmente possa ser uma profissão séria. Muitas vezes quando falto a algum evento familiar e posteriormente me desculpo explicando que não pude comparecer pois tive que trabalhar, passar o final de semana desenhando, vejo um:
- Ai, que desculpa!
estampado no rosto das pessoas.
Recentemente não pude deixar de ouvir um comentário, embora tenha sido feito à boca pequena:
-E desde quando desenhar é trabalhar?
Um aluno, já experiente no desenho, me contou inconformadíssimo:
- Naomy, você acredita que me ofereceram cinco reais para desenhar dois retratos como se estivesse pagando uma fortuna!?
Encontramos e vivenciamos muitas coisas pelo caminho mas a grande maioria das pessoas que conhecemos através do desenho são pessoas especiais, que temos a oportunidade de admirar, aprendermos muito e principalmente acumulamos amizades que amamos colecionar.  Alunos que mandam notícias, alunos que me escrevem de países longínquos, saudosos, com palavras de carinho me comovendo e me enchendo de saudade. Editores generosos e amigos que sempre nos ensinam, nos orientam, nos incentivam e que me aquece o coração todas as vezes que trabalhamos juntos. E nestas horas sinto uma imensa gratidão por compartilhar a arte com pessoas tão especiais e iluminadas.
Tudo isso faz a vida valer muito a pena!

sábado, 3 de julho de 2010

Olhos que falam e não negam.

O ser humano pode ser tão maravilhosamente instigante. Ele pensa. E como pensa, mas tem a grande capacidade de se fechar, de ser uma caixinha trancada a milhões de chaves. Sentir uma emoção e representar um sentimento totalmente divergente! O ser humano tem a capacidade de mentir, de ocultar, de se utilizar da hipocrisia, jurar em falso. Nossa! Como estou amarga, revoltada e pessimista? Não, nada disso, pois eu acredito que podem mentir, falsear, ser hipócrita mas existe uma janela no ser humano que trai todos este truques e artimanhas.
Os olhos, a janela da alma!  Olhos que falam e não negam. Lágrimas, sentimentos em forma de águas cristalinas. Quem pode suspender lágrimas que escorrem, cuja fonte se esconde atrás do morro de sentimentos? Sentimentos teriam peso ou medida? Alguns valem mais e outros menos?
Perdemos para Holanda num jogo de futebol, numa Copa do Mundo! Não chegamos à Semi-finais.
Muitos dirão:
- Qual é? Que bobagem se lamentar por isso! Num país de inundações, crimes e hospitais públicos deficitários!
Lí comentários na internet:
- Pra que chorar? Que ridículo as falsas lágrimas de duas dezenas de jogadores milionários?
Com certeza cada um tem as suas razões para tecer estes comentários, mas seria justo?
Após o jogo fui acompanhar meu pai que veio assistir o jogo comigo e ao entrar no elevador encontrei algumas pessoas sedentas a externar suas revoltas.
- Brasil mereceu isso! Bem feito! Não sabe o que é lutar até o fim! Lágrimas de jogadores! Ah! Faça me o favor!
Fiquei quieta, eu estava muito triste, ouvir estas palavras de brasileiros me deixou mais agredida ainda.
Meu pai também nada falou. Ficamos olhando para o chão. Não adiantaria falar nada para um grupo revoltado de pessoas querendo extravasar. Me poupei.
Por que agredir o Brasil? O Brasil estava lá representado por duas dezenas de jogadores que lutaram, se machucaram, erraram, mas lutaram dignamente e eu acredito que não fizeram isto pelos salários milionários. Naquele instante que se desesperaram para tentar recuperar um placar favorável estariam pensando no passe que iria se desvalorizar?
Lágrimas e até a dificuldade de respirar e falar do goleiro ao ser entrevistado, logo após a derrota, a dor que sentia por decepcionar  milhões de brasileiros eram falsas?  Lágrimas e a tristeza de pessoas que ganham salários milionários teriam menos valor?
Não, eu não posso acreditar nisso. Dirão que sou burra e ingênua? Tudo bem. Não mudarei mais nesta altura da vida. Eu não conseguirei deixar de me emocionar e me sentir consternada diante das lágrimas de um ser humano, independentemente se ricos ou pobres.
Se vencessemos a Copa do Mundo, apenas e tão somente se tornassemos hexacampeões, só assim os jogadores seriam heróis e todos se esqueceriam que eles são milionários e seriamos todos brasileiros irmãos?
Serão dignos de amor, respeito e idolatria apenas os vencedores? Pedras para os derrotados?
No decorrer da nossa vida muitas vezes tropeçamos, caimos e quando estamos no chão, machucados, 
podemos contemplar uma variedade de olhares, de desprezo, preconceito, sadismo, temor, mas no meio deles encontramos sempre olhares de compaixão, amizade, compreensão e amor. Nestas circunstâncias tudo que não precisamos são de xingamentos, censuras, repúdios e julgamentos, mas de compreensão, companheirismo, aceitação e amizade.
É neles que nos agarramos para continuarmos acreditando, caminhando e não desistirmos nunca! Nestes momentos então é que somos contemplados com um sopro de esperança e compreendemos o verdadeiro significado e a beleza da vida!