terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O encontro com o pincel

Nasci como a segunda filha de um fotógrafo profissional. A minha infância foi ligeiramente incomum pois desde muito pequena eu e a minha irmã tínhamos uma função, um trabalho.
Foi numa época em que as pessoas não possuiam máquinas fotográficas domésticas como hoje que até com celulares tiramos fotos. Então, quando as pessoas casavam, batizavam, faziam a primeira comunhão, nasciam um filho iam até o estúdio fotográfico para registrar estes momentos tão importantes. Quando os clientes chegavam eu e a minha irmã interrompíamos a nossa brincadeira e íamos lá para : arrumar o longo véu ou a calda do vestido da noiva ou fazer graça utilizando o nosso brinquedo para os bebês sorrirem. Era uma função determinante para um bom resultado fotográfico. O estúdio do meu pai "Foto Estrêla" que ficava no bairro da Praça da Árvore, Zona Sul de São Paulo, era realmente um negócio familiar, a minha mãe também era fotógrafa e também coloria fotografias. Sim, como não existiam fotografias coloridas eram pintadas a mão uma por uma.
Uma tinta especial semelhante à aquarela, de origem americana, vinha incrustada em folhas, cada folha uma cor que totalizavam 24 folhas(24 cores) presas como um pequeno caderno. Com o pincel molhado em água pegava-se um pouco das cores e reservava-se no godê e misturavam-se para chegar nas cores que seriam pintadas. E as fotos eram pintadas com todo o cuidado para preservar a naturalidade e a qualidade.
Eu adorava ficar ao lado da minha mãe observando-a e até me atrevia a dar muitos palpites sobre as cores. Vendo esse meu interesse, ela resolveu me ensinar e testar se eu "daria para a coisa". E assim de uma simples arrumadora de véus fui promovida a colorista! Fiquei exultante pois poderia manusear aquelas tintas que tanto me interessavam e caprichava muito para que minha mãe tivesse orgulho de mim. Então, desde muito pequena tive amizade com pincéis e tintas e nunca mais parei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário